A intenção primeira de Lucas é mostrar a
importância da misericórdia em comunidades mistas (judeus e gentios). O
princípio da misericórdia é capaz de ajudar a vencer obstáculos, superar
preconceitos, para uma convivência fraterna e para a difusão da Palavra de
Deus. O preconceito contra qualquer pessoa poderia ser um impedimento ao
anúncio da Palavra.
Se o próprio Jesus se apresenta como o Bom
samaritano que se mistura conosco, por compaixão da humanidade caída, não deveria
a comunidade lucana fazer o mesmo? Não deveria ela acolher livremente e sem
preconceito os pagãos, por tanto tempo rejeitados pelos judeus?
A compaixão de Jesus revela à humanidade o
coração de Deus Pai. Portanto, através de seus atos misericordiosos, Jesus
apresenta as características do rosto da misericórdia de Deus. E toda
comunidade cristã deve agir como Jesus, aproximar-se do outro e o acolher.
Terminemos esta série de artigos realçando a
relevância do Evangelho de Lucas para o dia de hoje. Para Lucas, Jesus nos
deixou um testemunho para ser misericordioso e estar próximo dos pobres,
necessitados, doentes. Todos os cristãos são hoje os herdeiros dessa herança de
Cristo. Somos responsáveis por todos que sofrem: os drogados, os doentes de AIDS
e câncer, os homens sem teto, os famintos, as crianças e mulheres violentadas,
os doentes que sofrem. Todos eles estão à espera de uma ação nossa, de uma
resposta concreta. Nosso mundo de hoje tem necessidade de samaritanos, de
pessoas misericordiosas.
O samaritano não se contenta em ver o homem
caído; ele sente compaixão e aceita a improvisação que a cena exige, a
espontaneidade que ainda falta muita na nossa Igreja cristã. Talvez ele não
tivesse muito conhecimento da Lei e dos preceitos, como era o caso do sacerdote
e do levita, mas tem um coração grande, espaçoso, capaz de acolher, de se
compadecer. Ele teve compaixão, ou seja, seu coração ficou cheio de amor sem
medo de aproximar-se do outro.
O homem que não agiu a partir da Lei, mas a
partir do impulso de seu coração misericordioso é que foi capaz de cumprir o
mandamento do amor, tornando-se próximo ao necessitado. O Papa Francisco
insiste, desde o começo do seu pontificado, sobre a importância da acolhida e
da misericórdia para com todos. Imitando Jesus e seguindo a orientação do Papa
Francisco, hoje, as comunidades cristãs têm a obrigação
de serem mais acolhedores para com os pobres, os excluídos, os marginalizados,
as pessoas com orientação sexual diferente, as mães solteiras, as pessoas numa
segunda união, etc.
No mundo de hoje, onde a Boa Nova de Jesus
tornou-se quase desconhecida inclusive para os próprios batizados, é urgente
redescobrir a pessoa de Jesus de Nazaré morto e ressuscitado e sua proposta
sobre a prática da misericórdia com o próximo.
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Leia também os oito artigos anteriores da série “O Jesus misericordioso em Lucas”: