Os Evangelhos nada afirmam concretamente
sobre seus autores “são composições anônimas escritas entre os anos 65-90,
reunidas numa coleção, aproximadamente pelo ano 125” (AGUIRRE CARMONA, 2006, p.
17). Os autores se tornam conteúdos pela própria obra, porque ela deixa
transparecer aquele que a conta.
Pelo estilo de literatura, percebe-se que
Lucas é uma pessoa inteligente, que domina muito bem o grego, sua língua
materna e, apesar de ser da diáspora, conhece a Escritura. Não deve ter vivido
na Palestina porque nota-se com nitidez que não conhece bem a sua geografia;
por exemplo, confunde a Judéia com a Galileia (cf. Lc 4,44; 7,17; 23,5).
Há especulações sobre quem seria o autor deste
Terceiro Evangelho. Alguns o atribuem ao companheiro de viagem de Paulo “aquele
Lucas de quem falam as cartas de Paulo (Cl 4,14; Fm 24; 2Tm4,11). A tradição
antiga, desde Ireneu de Lião (Adv. Haer, III, 1,1; 14,1) até o fim do século
II, não tem dúvidas a este respeito” (FABRI MAGGIONI 1992, p. 20, v.2).
Apesar de Lucas aparecer como o discípulo anônimo
que relata nos Atos alguns episódios em primeira pessoa, durante a segunda e
terceira viagens de Paulo (cf. At 16,10-17; 20—21,18; 27,1—28,16), a pesquisa
bíblica atual não está segura de que Lucas tenha sido companheiro de viagem de
Paulo. Pode ser que o autor dos Atos dos Apóstolos tenha escrito sua obra a
partir de algumas informações sobre a viagem de Paulo (relatos de viagem), mas
não necessariamente de um diário pessoal.
Para compor o seu escrito, Lucas
provavelmente teve acesso a três fontes diferentes. A primeira é o texto de
Marcos. A segunda é outra fonte comum a Mateus, denominada fonte Q, cuja
reconstituição é hipotética, por meio de comparação entre Mateus e Lucas,
eliminando o que é comum com Marcos. A terceira seria as fontes particulares
que provavelmente eram das tradições orais e escritas dos círculos
judeu-cristãos.
A data de composição do Evangelho de Lucas é
estimada pelo ano 80 dC. A queda de Jerusalém é um dado que serve de referência
para a datação. O discurso de Lucas sobre o fim (cf. Lc 21,20-38) contém
indícios sobre o acontecimento da queda de Jerusalém. Ora, a distinção que
Lucas faz entre o fim de Jerusalém e a vinda do filho do Homem coloca em favor
de uma redação do discurso depois da queda da cidade. Desta forma, considerando
o vínculo de Lucas e Marcos (escrito nos anos 70/75), como assim também o seu
modo de se referir aos fatos do ano 70, pode indicar para o evangelho lucano
uma data por volta dos anos 80/85
Destinatário. Tanto no Evangelho de Lucas
(cf. Lc 1,3) quanto nos Atos dos Apóstolos (At 1,3) aparece claramente, no
prólogo, o destinatário: Teófilo. Quem será esse Teófilo? Pode ser alguém
importante que financiou a obra, como era costume na época; pode ser também
alguma autoridade romana a quem Lucas quer apresentar Jesus e com isso defender
os cristãos, ou pode ser simplesmente um nome simbólico, pois Teófilo significa
amigo de Deus.
No entanto, lendo o Evangelho e os Atos dos
Apóstolos, percebe-se que os verdadeiros destinatários são as comunidades
cristãs espalhadas pelo Império Romano, ligadas ao mundo gentílico,
possivelmente de origem paulina. São provavelmente comunidades urbanas e
lugares no quais é forte o comércio, onde participam ricos e pobres. Observe
que Lucas é o único que narra a conversão de Zaqueu, que era rico (cf. Lc19,
1-10) e aponta fortemente os perigos da riqueza.
“A posição de Lucas diante dos ricos e das
riquezas, ajuda a compreender e a matizar sua posição diante dos pobres. Para
ele, Jesus é inimigo da riqueza, mas é amigo dos ricos, igual a todos os
homens, pois todos se encontram sob o pecado e estão necessitados de sua ajuda”
(AGUIRRE; CARMONA, 2006, p. 320).
Observamos também que nestas comunidades há
cristãos que se converteram, mas continuaram ligados às instituições do Império
(cf. Lc 7,1-10). Parece que Lucas não quer criar problemas com o Império.
Além disso, nas comunidades que têm como
característica a presença feminina, Lucas dá especial atenção às mulheres (cf.
Lc 7,36-50). No Evangelho de Lucas e nos Atos dos Apóstolos, as mulheres são
mencionadas mais do que nos demais autores do Novo Testamento: Jesus as cura,
as defende. Jesus se sensibiliza muito com a viúva e com a pecadora.
Por:
Leia também os dois primeiros artigos da série “O Jesus misericordioso em Lucas”: