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Artigo: Início de uma reflexão sobre o Jesus misericordioso em Lucas

13 de fevereiro de 2015

Estamos iniciando uma série de artigos sobre o Jesus misericordioso em Lucas. Se você acompanhar o nosso texto, poderá fazer uma leitura orientada sobre o Evangelho de Lucas.
O que encontramos, portanto, nos Evangelhos? Encontramos os relatos acerca da experiência de Jesus Ressuscitado, feita por uma determinada comunidade, num contexto específico. Nesses relatos, sobrevivem memórias de testemunhas, ou seja, o modo como Jesus era lembrado nessas comunidades.
E como essa experiência é transmitida? Jesus era judeu – plenamente – e os evangelhos foram produzidos e germinados num ambiente que mesclava elementos culturais judaicos e gregos. Para um judeu, a Escritura é a “Palavra de Deus feita livro”, mas só é possível acessar essa Palavra pelo ensino, isto é, numa relação de mestre-discípulo.
Os Evangelhos são, pois, catequeses sobre Jesus construídas com a intenção -ora explícita, ora implícita- de transmitir um determinado ensino sobre a fé no Ressuscitado; fé que funda, caracteriza e constitui a Igreja.
Este trabalho abordará o tema da teologia da misericórdia no Evangelho de Lucas. Fundamentalmente o evangelista desenvolve uma teologia da história: história da presença misericordiosa de Deus no mundo salvando a todos por meio de sua palavra transformadora.
No Terceiro Evangelho, há uma sutileza de que Deus somente age em forma de misericórdia (ἔλεος) e principalmente em favor dos mais excluídos e rejeitados pela Lei Judaica. Para ilustrar a tese sobre a teologia da misericórdia em Lucas será fornecida uma série de reflexões e como auge da reflexão uma análise da perícope do bom samaritano (Lc 10,25-37) que esclarece bem que a misericórdia consiste na compaixão pelo próximo sem esperar uma recompensa, tal como Deus, por meio de Cristo, age entre nós.
A teologia da misericórdia é uma marca registrada do Evangelho de Lucas. Seus escritos revelam essa teologia com muita clareza. Tudo aponta para isso. Lucas deixa claro que o Deus revelado por Jesus Cristo traz a salvação para todos, e a salvação vai acontecendo desde uma perspectiva da misericórdia e não pelo cumprimento da Lei. O evangelista reforça a misericórdia de Deus durante todo o seu Evangelho mostrando como Jesus acolhe, perdoa, liberta e cura.
Caro leitor/a, este trabalho surge a partir de uma angústia de querer propagar a imagem do Deus misericordioso, que salva por puro amor (αγάπη) que, como um bom samaritano, desce de sua dignidade divina para se misturar conosco, pobre humanidade caída.
Para a nossa reflexão, seguiremos uma estrutura até chegarmos à conclusão. Em primeiro lugar será exposto uma breve explicação sobre a obra lucana, mostrando que é composta por dois volumes: Evangelho de Lucas e Atos dos Apóstolos. Os dois textos não podem ser entendidos separadamente, pois um complementa o outro. O primeiro livro mostra como o Espírito Santo age na pessoa de Jesus de Nazaré, enquanto que o segundo livro faz ver este mesmo sopro do Espírito Santo na Igreja, ou seja, na vida dos Apóstolos enviados em missão. Depois demonstrada a unidade dos dois livros, deteremos em questões próprias do Evangelho: data, destinatários, autor, teologia etc.
Em segundo lugar, entraremos e trataremos da teologia da misericórdia divina. Veremos que o evangelista insiste em mostrar Jesus sempre praticando gestos de misericórdia, ensinando a misericórdia. Até a teologia da palavra, tão presente em Lucas, pode ser entendida como resultado da sua crença na misericórdia de Deus que não desiste de salvar a todos, inclusive os gentios. Para entender melhor esta parte, faremos uma série de reflexão encima de textos –perícopes- chaves que mostram a ação misericordiosa de Jesus.
Em terceiro lugar, apresentaremos a parábola do bom samaritano como auge da nossa reflexão. Será feito um trabalho minucioso de tradução, delimitação e análise do texto. Aí veremos que essa parábola ganhará um destaque especial, porque, através dela, Lucas mostra que a misericórdia (ἔλεος) está acima de tudo, inclusive dos problemas presentes na relação entre judeus e samaritanos. E, ao final, destacaremos que o verdadeiro bom samaritano é o próprio Jesus, que salva a todos.
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