Ainda que a produção e o consumo de material pornográfico sempre tenham
sido um problema, tudo se agravou com o advento da Internet e das novas
tecnologias, reconhecem os bispos. “Ao contrário de uma revista, a Internet não
tem página final.”
Reunida em assembleia, a Conferência Episcopal dos
Estados Unidos lançou, no último dia 17, um importante documento pastoral,
condenando o mal da pornografia e chamando
“todos os homens de boa vontade” a trabalhar por uma “cultura de pureza” e de
respeito à sexualidade humana.
O título da declaração – Create in Me a
Clean Heart – pega emprestadas as palavras do salmista: “Criai em mim um coração
que seja puro” (Sl 50, 21).
Para o bispo da diocese de Buffalo, Nova Iorque, “a
aprovação dessa declaração mostra a preocupação coletiva de todos os nossos
irmãos bispos com o crescente problema da pornografia em nossa cultura”.
Richard J. Malone (na foto) destacou que “muitas pessoas, inclusive dentro da
Igreja, têm necessidade da abundante misericórdia e cura de Cristo”. “Minha
esperança é de que a declaração possa servir de base e motivação para uma
crescente atenção pastoral a esse desafio”, ele disse.
O documento contém uma catequese básica sobre a
sexualidade humana e a castidade, explica por que são pecados a produção e o
consumo de material pornográfico e mostra os efeitos devastadores que têm a
pornografia na vida dos indivíduos, das famílias e de toda a sociedade. No fim
da carta, os bispos ainda endereçam uma palavra de coragem e esperança a todos
aqueles que têm sido machucados por essa cultura de degradação da sexualidade.
Tudo com direito a abundantes notas de rodapé, com amplas citações do
Magistério da Igreja e de abalizadas pesquisas conduzidas no campo científico.
Uma ferida dentro das famílias
Uma palavra especial é dirigida às famílias que
sofrem com o consumo da pornografia por parte de um dos cônjuges. De acordo com
muitos advogados, esse tem sido um fator chave para mais de metade dos casos de
divórcio em que eles trabalham, sem falar das estatísticas que indicam que
“cônjuges que usam pornografia são mais propensos a ter um caso extraconjugal”:
“O uso de pornografia dentro do matrimônio
deteriora severamente tanto a confiança quanto a intimidade dos esposos,
seja por causa do próprio uso de pornografia, seja pela decepção e mentiras
geralmente envolvidas em um cônjuge esconder a sua conduta do outro. (…)
Esposos que descobrem o uso de pornografia de seu marido ou esposa
frequentemente se sentirão traídos, e muitos experienciam um sentimento de
trauma semelhante à desordem de estresse pós-traumática. (…) Contra a ideia
comum de que a pornografia pode ser um auxílio à intimidade conjugal, o seu uso
tende a diminuir a satisfação sexual e o interesse em sexo, podendo levar à
impotência nos homens.”
Por fim, lamentando o fato de as crianças terem a
sua inocência “roubada” pela indústria pornográfica, os bispos apelam aos pais
para que protejam as suas casas. “Sejam vigilantes com a tecnologia que vocês
deixam entrar em suas casas – diz a carta – e estejam atentos à prevalência de
conteúdo sexual, mesmo no cinema e na TV mainstream, e à facilidade
com que ele chega por meio da Internet e dos aparelhos móveis”. O pior
inimigo, de fato, é aquele que se esconde dentro da sua própria casa.