Hoje, dia 15 de
setembro de 2015, faleceu o Pe. Erich depois de alguns anos padecendo da
terrível doença da atualidade, o mal de Alzheimer, que foi, progressivamente,
eliminando toda e qualquer possibilidade de consciência do nosso querido
confrade. Não
posso falar agora dos detalhes de sua frutuosa passagem por esse mundo e pelos
grandes serviços prestados à Santa Igreja de Deus e à nossa Congregação.
Falarei da convivência que tive com ele durante vários anos, tanto como
formando, como padre.
Pe. Erich foi
meu Mestre de Estudantado e de alguns confrades nos anos de 1965 e 1966. Era
também diretor do Colégio Padre Machado, em Belo Horizonte. Foram anos de
progresso e de crescimento, tanto pessoal como comunitário. Eu o comparo a um
técnico de futebol que deixa o time jogar, pois confiava nos seus pupilos,
incentivando-os a viverem com responsabilidade, a fazerem crescer seu
potencial, a tomarem contato com a cultura.
Era um bom
conselheiro, que respeitava a liberdade de seus orientados, para que eles mesmos
encontrassem as respostas e as soluções para seus problemas e questionamentos.
Sua presença e suas palavras me ajudaram muito quando, já não mais sob sua
direção, fui para Roma, para a etapa final da formação para os votos solenes e
as Ordens sacras. Mesmo de longe e através de cartas, pois, na época, final da
década de 1960, não havia a facilidade que temos hoje em matéria de
comunicação, ele me orientou mais de uma vez em momentos de crise, mas a
decisão final foi sempre minha.
No final de
1970, eu, recém ordenado presbítero, vim para Belo Horizonte, trabalhar no
Colégio Padre Machado. Sempre na vanguarda, o Pe. Erich me colocou logo em
contato com o que havia de mais moderno na época: um computador enorme que
funcionava no sistema DOS. Não me dei muito bem com aquela máquina
"moderníssima", mas isso foi secundário. O mais importante foi a
convivência com o Pe. Erich.
Minhas idéias
não eram necessariamente as mesmas dele, mas sempre prevaleceu o respeito
recíproco. Eu trabalhava no colégio e no Morro do Papagaio. Anos antes, ele
tinha aberto as portas do colégio para a Flama Pio XII, que ocupava as
dependências do Padre Machado ministrando a Catequese para crianças,
adolescentes, jovens e mães do Morro. Eu me lembro que, trabalhando em áreas
diferentes, quase toda noite nós partilhávamos nossas experiências: ele,
mostrando o que tinha feito no colégio e como professor de Filosofia na PUC
MINAS e/ou no ISTA e eu nas minhas turmas de Religião e, depois, de Geografia
no colégio e nas minhas lidas com o povo do Morro. Tinha sempre palavras de
incentivo e de compreensão, mesmo sabendo que não tinha muito jeito na Pastoral
direta com o povo.
Minha gratidão por ele não tem tamanho. Posso dizer que, o que consegui como Barnabita, eu devo, em grande parte, a esse religioso extraordinário. Fica, na minha lembrança, a pessoa lúcida e de vanguarda que ele foi.
Vou lembrar, agora, alguns fatos interessantes da vida dele que eu pude presenciar:
Minha gratidão por ele não tem tamanho. Posso dizer que, o que consegui como Barnabita, eu devo, em grande parte, a esse religioso extraordinário. Fica, na minha lembrança, a pessoa lúcida e de vanguarda que ele foi.
Vou lembrar, agora, alguns fatos interessantes da vida dele que eu pude presenciar:
- Certa vez, um
bêbado subiu no muro que divide o colégio de um antigo estacionamento (hoje um
hotel inacabado). O Pe. Erich estava desesperado, tentando fazer o bêbado sair
daquela situação de grande perigo. Esbravejava com o homem, mandando que ele
descesse imediatamente. O bêbado esbravejava de volta e a situação estava cada
vez mais tensa, até que ele me chamou para resolver a questão. - Vem cá, ele me
disse. Quem entende de bêbados é você! Falando com jeito, o bêbado desceu do
muro. Só queria um prato de comida! É bom lembrar que bêbado não cai! - Como
você conseguiu? Perguntou-me o Pe. Erich mais tarde. Respondi: - O senhor não
disse que quem entende de bêbados sou eu? Pois é!
- Certa vez, ele
deu uma aula sobre a teoria de Teillard de Chardin para os alunos do turno da
noite do Padre Machado, todos gente simples, das favelas e das periferias de
BH. Ficou muito frustrado. - Ninguém entendeu nada! Disse-me ele. Tempos mais
tarde, levei o carro da comunidade para um mecânico do Morro do Papagaio, que
tinha sido aluno do turno da noite do Padre Machado. O Celso me perguntou pelo Pe.
Erich que, na época estava em Roma como Assistente Geral e Mestre dos
Estudantes professos. - Que saudades do Pe. Erich! Onde ele está! Nunca me
esqueço daquela aula sobre T. De Chardin. Que clareza, que profundidade! E
repetia alguns conteúdos ministrados pelo padre. Pois é! Quando me encontrei
com o Pe. Erich, contei-lhe sobre o Celso e ele ficou muito feliz. Afinal, ele
podia lidar também com quem não é intelectual!
- Para terminar,
um comentário muito surpreendente, mas que condizia com a visão mais à frente
dos tempos que o Pe. Erich tinha. Certa vez, ele afirmou, em alto e bom tom,
que viajar de avião o cansava muito, porque avião era um meio de transporte
muito lento! Kkkkkkkkk! Postariam os usuários do facebook, mas quem o conhecia,
sabia que aquilo não era loucura, nem falta de juízo. Era mesmo um sinal dos
tempos futuros.
Querido Pe.
Erich, repouse em paz! Agora, os anjos do céu vão aprender Filosofia, se vão!
Autor:
Pe. Luiz
Antônio do Nascimento Pereira CRSP