DE SACRATISSIMI CORDIS IESU DEVOTIONE ET BARNABITIS
Sabemos que a origem da devoção ao
Sagrado Coração de Jesus teve início na França do século XVII por obra da
religiosa irmã Margarida Maria Alacoque, da Ordem da Visitação, que se tornou
santa. Ela teve revelações do próprio Jesus que a incumbiu de propagar a
devoção ao seu Sagrado Coração. Há relatos que o Sagrado Coração de Jesus já
era cultuado na Idade Média, porém, a partir do século XVII, em Paray-le-Monial
na França, por meio de Margarida Maria Alacoque foi que o culto ao Sagrado
Coração de Jesus se desenvolve com maior força e se espalha pela Igreja.
A devoção ao Sagrado Coração de
Jesus entre os barnabitas se inicia poucos decênios após as aparições do
próprio Jesus a santa Margarida Maria Alacoque, que de Paray-le-Monial (França)
chega à Itália por volta do ano 1748 através do jovem barnabita Giovanni
Percoto na época estudante de filosofia, e que depois se tornará Vigário
Apostólico no reino de Ava e Pegù, atual Birmânia, onde os barnabitas estiveram
em missão por cem anos, e bispo auxiliar de Maxula Prates (antigo bispado da província
romana Proconsularis na África que pertencia à diocese de Cartago, hoje na
atual Tunísia). Com seu entusiasmo Giovinni Percoto contagiou outros estudantes
barnabitas na devoção ao Sagrado Coração de Jesus, chegou a publicar um livro
intitulado: Devoção ao Sagrado Coração de
Jesus, publicado em 1752 e reeditado em 1770.
É com Giovanni Percoto que se
introduz entre os barnabitas a devoção ao Sagrado Coração de Jesus, e se
espalhará entre os demais estudantes barnabitas e casas de formação e colégios,
entre eles o colégio de São Barnabé, em Milão, diante da iniciativa de Giovanni
Percoto, segundo as palavras do padre Gentili: “a devoção dos barnabitas ao
Sagrado Coração de Jesus constitui um dos capítulos mais importantes na
história da nossa espiritualidade” (2012, p. 379).
Com a difusão da devoção ao Sagrado
Coração de Jesus por várias partes da Europa impulsionada pelos jesuítas. Na Itália
o padre jesuíta Joseph Gallifet era o cabeça do movimento, chegando a escrever
um livreto sobre o culto ao Sagrado Coração de Jesus, que por sua vez, foi
revisado pelo Padre Mario Macabbei, indicado pelo Santo Oficio para tal tarefa,
mais tarde se tornou Superior Geral dos barnabitas (1731-1737). Em sua revisão
não encontrou desvios teológicos no livreto aprovando com as seguintes palavras:
“não nocivo à fé ou aos bons costumes e bastante útil à virtude e a perfeição”
(GENTILI, 2012, p.382).
Assim sendo, a devoção ao Sagrado
Coração de Jesus, foi se espalhando e seu culto atingindo diversas
congregações. Diante do avanço dessa devoção, e já com o incentivo dado por
Giovanni Percoto entre os estudantes barnabitas, em 1767, o capítulo geral dos
barnabitas favorece o uso do Oficio e a Missa ao Sagrado Coração de Jesus, como
forma de promover a piedade máxima entres os membros da Congregação.
Em 02 de janeiro de 1765 viria de
Roma a aprovação da festa em honra ao Sagrado Coração de Jesus, sobre o
pontificado de Clemente XIII, porém limitava-se em celebrá-la na Polônia e em
Roma. Depois a festa se expandiu por toda a Igreja, sendo celebrada na
sexta-feira após a oitava da solenidade de Corpus Christis.
A devoção ao Sagrado Coração de
Jesus que ao mesmo tempo em que se expandia na Igreja ganhando o apreço das
autoridades eclesiásticas e por parte dos fiéis, também encontrou resistência
por parte dos jansenistas que eram contrários à devoção, pois para eles o culto
ao Sagrado Coração de Jesus era uma espécie de idolatria, pois incentivava a
adoração do músculo do qual é formando o coração, ou seja, daria a ideia de que
se estava adorando algo material.
Em 1794 o papa Pio VI rebateu as
acusações dos jansenistas por meio da bula pontifícia: Autcorem fidei, na qual condenava os erros dos jansenistas e
afirmava o culto ao Sagrado Coração de Jesus. Durante este ínterim, o padre
Angelo Cortonovis, barnabita, por meio de uma carta, rebatia as acusações dos
jansenistas: “Por que então tanto furor (contra o culto ao Sagrado Coração?),
por que tanta apreensão? Não é o fruto de tal devoção às almas manifesto?”
(GENTILI, 2012, p. 383).
Vencidos os obstáculos que surgiram
contra a devoção ao Sagrado Coração de Jesus, no ano de 1856, o papa Pio IX estendeu
à toda a Igreja a festa ao Sagrado Coração de Jesus.
No desenvolver do século XIX,
nascia a revista “O Mensageiro do Sagrado Coração”, fruto dos padres jesuítas,
mas que contou na Itália com a ajuda do padre Donato Maresca, barnabita, que em
1860 incentivou a devoção ao Sagrado Coração de Jesus na igreja dos padres
barnabitas em Parma. Em 1864 padre Maresca juntamente com o padre jesuíta
Ramière deu início ao trabalho de traduzir para a língua italiana a revista “O
Mensageiro do Sagrado Coração”, sendo nomeado como diretor chefe da revista em
solo italiano. Apesar das dificuldades que encontrou, padre Maresca continuou
seu apostolado na difusão ao culto do Sagrado Coração de Jesus, e em 1869,
quando o reino da Bélgica se consagra ao Sagrado Coração de Jesus, ele escreve:
“Confiamos que chegará o tempo no qual os católicos italianos com maior
esplendor e energia imitarão o exemplo que fora dado pela Bélgica católica”
(GENTILI, 2012, p.384).
O papa Pio IX recebeu por parte dos
cardeais, bispos, superiores das Ordens religiosas e por parte dos fieis o
pedido de consagrar as dioceses italianas ao Sagrado Coração de Jesus. Neste
ato, o desejo de padre Maresca torna-se realidade em ver a Igreja na Itália
sendo consagrada ao Coração de Jesus durante os anos de 1871 a 1875.
No mesmo ano de 1871, em Roma, na
igreja dos barnabitas de São Carlos ai Catinari, o então Superior Geral dos
barnabitas consagra a Congregação dos Padres e Irmãos Barnabitas ao Sagrado
Coração de Jesus, diante do Santíssimo Sacramento em forma de gratidão pelas
bênçãos derramada sobre a Congregação.
A sede da revista “O mensageiro do
Sagrado Coração” se encontrava em Bolonha, onde em 1875, na catedral da mesma
cidade, houve o ato de consagração. O mesmo acontecia em São Carlos ai Catinari,
em Roma, que se tornou, nas palavras do padre Gentili (2012), um importante
centro de difusão ao Sagrado Coração de Jesus para os padres barnabitas. Em
1887 durante a comemoração do jubileu sacerdotal do papa Leão XIII nascia em
Roma por iniciativa dos padres barnabitas, a revista “O devoto do Sagrado
Coração”, cujo objetivo era informar aos devotos as obras e instituições
criadas para a glorificação ao culto do Sagrado Coração de Jesus.
No ano de 1891 falece o padre
Maresca após uma vida de entrega à propagação do culto ao Sagrado Coração de Jesus.
Também é justo mencionar a participação do padre Vitale (1849-1916) que
substituiu o padre Maresca como diretor chefe da revista “O Mensageiro do
Sagrado Coração”, foi responsável pela criação dos congressos do Apostolado da
Oração, sendo a cidade de Palermo, na Sicília, a sede do primeiro congresso do
Apostolado da Oração. Além dos esforços dos padres Maresca e Vitale, houve outros
padres barnabitas que se entregaram ao apostolado da difusão ao culto ao
Sagrado Coração de Jesus, tais como: o padre Matera de Napolis, padre Innocente
Gobio de Monza, o padre Alessandro Teppa de Piemonte, os padres Minelli,
Ranuzzi, Baravelli, Almerici, o Cardeal Granniello, homens que contaram também
com a ajuda de leigos como a nobre Caterina Volpicelli, hoje beata da Igreja e
a princesa Clotilde Napoleone.
Dentro da história barnabítica na
difusão ao culto ao Sagrado Coração de Jesus, não apenas os padres barnabitas
na Itália se lançaram no apostolado em difundir o culto ao Sagrado Coração de
Jesus, a Congregação também encontrou forças em terras francesas onde nossos
padres já desenvolviam seu apostolado. Os barnabitas franceses desenvolveram missas,
horas santas, adorações em honra ao Sagrado Coração, fundaram a Sociedade dos
Filhos do Sagrado Coração, cujo objetivo era difundir entre as famílias a
devoção ao Sagrado Coração, em que a regra fora aprovada pelo Superior Geral da
Congregação e pelo arcebispo de Paris, o então Cardeal Guibert.
Após a morte do padre Vitale, a
direção das revistas “O Mensageiro do Sagrado Coração” e “O devoto” passaram
para as mãos dos padres jesuítas, já que na Itália “O Mensageiro” teve sua
origem com os padres jesuítas na França e, por conseguinte, a revista “O devoto”
seguiu o mesmo destino, sendo agora dirigidos pelos jesuítas da Itália.
Cabe aos barnabitas a honra de
durante o século XIX serem os propagadores ao culto do Sagrado Coração de Jesus
na Itália, desenvolvendo tão precioso apostolado para o bem da Igreja e para a
edificação dos fieis a eles confiados, registrando na história da nossa
Congregação este capítulo glorioso que deve ser conhecido por todos os
religiosos barnabitas, pois é algo digno de louvor, em que os barnabitas de
hoje ao olharem o passado de nossa Congregação encontrarão páginas que foram
escritas com bastante labor e que deram frutos de santidade e piedade
impulsionando a renovação de nossa Congregação. Como já foi citado neste
artigo, a devoção dos barnabitas ao Sagrado Coração de Jesus constitui umas das
páginas mais importantes da história da nossa espiritualidade!
Por:
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
GENTILI, Antonio
Maria. I Barnabiti: Manuale di storia e
spiritualità dell’Ordine dei Clerici regolari di san Paolo Decollato. Roma:
2012.