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IV Domingo do Advento

19 de dezembro de 2010

Queridos irmãos e irmãs,
    Saudações no Cristo que vem!
     
A liturgia deste domingo nos exorta que Jesus é o “Deus conosco”, que veio ao encontro dos homens para lhes oferecer a salvação e a vida nova.
     A narrativa Evangélica que nos é oferecida hoje pertence ao “Evangelho da Infância”. De acordo com os estudiosos, o “Evangelho da Infância” pertence a um gênero literário especial, chamado homologese.
     Este gênero não pretende ser um relato jornalístico e histórico de acontecimentos; mas é uma catequese destinada a proclamar certas realidades salvíficas: (que Jesus é o Messias, que ele vem de Deus, que ele é o “Deus conosco”). 
     Desenvolve-se em forma de narração e recorre às técnicas do midrash haggádico (uma técnica de leitura e de interpretação do texto sagrado usada pelos rabinos judeus da época de Jesus). A homologese utiliza e mistura tipologias (fatos e pessoas do Antigo Testamento, encontram a sua correspondência em fatos e pessoas do Novo Testamento) e aparições apocalípticas (anjos, aparições, sonhos) para fazer avançar a narração e para explicitar determinada catequese sobre Jesus. O Evangelho que nos é hoje narrado deve ser entendido a esta luz: não interessa estar aqui à procura de fatos históricos; interessa perceber o que é que a catequese cristã primitiva nos ensina, através destas narrações, sobre Jesus.
      Há ainda outra questão que importa ter em conta, para percebermos o pano de fundo da narração: a situação de Maria e José. O casamento hebraico considerava o compromisso matrimonial em duas etapas: havia uma primeira fase, na qual os noivos se prometiam um ao outro (os “esponsais”); só numa segunda fase surgia o compromisso definitivo (as cerimónias do matrimónio propriamente dito).
      Entre os “esponsais” e o rito do matrimónio, passava um tempo mais ou menos longo, durante o qual qualquer uma das partes podia voltar atrás, ainda que sofrendo uma penalidade. Durante os “esponsais”, os noivos não viviam em comum; mas o compromisso que os dois assumiam tinha já um carácter estável, de tal forma que, se surgia um filho, este era considerado filho legítimo de ambos.
      A Lei de Moisés considerava a infidelidade da “prometida” como uma ofensa semelhante à infidelidade da esposa. E a união entre os dois “prometidos” só podia dissolver-se com a fórmula jurídica do divórcio. Ora, segundo a narrativa José e Maria estavam na situação de “prometidos”: ainda não tinham celebrado o matrimónio, mas já tinham celebrado os “esponsais”.
     Segundo a narração de São Mateus, José apercebeu-se que Maria estava grávida, durante a fase dos esponsais. Como sabia não ser o pai do bebé que estava para chegar, resolveu abandonar Maria, em segredo; mas um anjo do Senhor apareceu-lhe em sonhos e esclareceu o mistério: “Aquele que vai nascer é fruto do Espírito Santo”. O que é que temos aqui? Reportagem de acontecimentos históricos?
     O anúncio do anjo a José segue o esquema dos relatos do Antigo Testamento, em que se anuncia o nascimento de uma personagem importante. O anúncio está rodeado de sinais divinos (o “anjo do Senhor”, o sonho)) que provocam medo e espanto. O mensageiro divino anuncia qual será o nome e a missão da criança que vai nascer.Dá-se um sinal que confirma o anúncio (o cumprimento das Escrituras). A função destes anúncios é vincular a personagem, desde o seu nascimento, com o projeto divino.
     Neste episódio temos, não uma descrição de fatos históricos, mas uma catequese sobre Jesus (que é apresentada recorrendo a esquemas literários,conhecidos dos escritores bíblicos). Então, o que é que esta catequese procura ensinar? Fundamentalmente, procura-se mostrar que Jesus vem de Deus, que a sua origem é divina (Maria encontra-se grávida por virtude do Espírito Santo”.Procura se, ainda, ensinar qual será a missão de Jesus: o nome que lhe é atribuído mostra que ele vem de Deus com uma proposta de salvação para os homens (“Jesus” significa “Javé salva”).
      Também se diz, de forma clara, que ele é o Messias de Deus, da descendência de Davi, que os profetas anunciaram (a referência ao seu nascimento de uma “virgem” não deve ser vista como a afirmação do dogma da virgindade de Maria, mas como a afirmação de que Jesus é o Messias anunciado pelos profetas – nomeadamente pelo texto de Is 7,14 – enviado por Deus para restaurar o reino de David). De qualquer forma, a figura de José desempenha aqui um papel muito interessante. O anjo dirige-se a ele como “filho de Davi” e pede-lhe que receba Maria e que ponha um nome à criança). A imposição do nome é o rito através do qual um pai recebe uma criança como filha. Assim, Jesus passa a fazer parte da família de Davi e a ser, naturalmente, a esperança para a restauração desse reino ideal de paz e de felicidade pelo qual todo o Povo ansiava. Pela obediência de José, realizam-se os planos e as promessas de Deus ao seu Povo.
     Esse Jesus que esperamos é – de acordo com a catequese que a primitiva comunidade cristã nos apresenta por intermédio de São Mateus – o “Deus que vem ao encontro dos homens”, para lhes oferecer a salvação. A festa do Natal que se aproxima deve ser o encontro de cada um de nós com este Deus; e esse encontro só será possível se tivermos o coração disponível para O acolher e para abraçar a proposta que ele nos veio fazer. É isto que acontece?
     A figura de Maria é uma figura incontornável para quem prepara o Natal: é a figura que está sempre disponível para escutar os apelos de Deus e que lhes responde com um “sim” de disponibilidade total. É esse “sim” e essa disponibilidade que tornam possível a presença salvadora de Deus no mundo. Estou na mesma atitude de disponibilidade aos desafios de Deus? Sou capaz de dizer todos os dias “sim”, de forma a que, através de mim, Deus possa nascer no mundo e salvar oshomens?
     Outra figura que nos interpela e questiona neste tempo de Advento é a figura de José. Ele é o homem a quem Deus envolve nos seus planos – planos que, provavelmente, lhe parecem misteriosos e inacessíveis – mas que tudo aceita, numa obediência total a Deus. Sou capaz de acolher os projetos de Deus – pessoais – com a mesma disponibilidade de José, na obediência total aos esquemas de Deus?
     Assim aos homens perdidos, Deus oferece a sua presença. O Povo de Deus estava perdido, esperava o Messias prometido pelos profetas e não o via chegar. Maria e José estavam perdidos, porque não havia lugar para eles. Os pastores estavam perdidos, eram excluídos em toda a parte. Os Magos estavam perdidos, não sabiam onde devia nascer o Messias. E eis que Deus oferece a sua presença: Ele é o Emanuel, Deus conosco! Depois do Natal, ninguém está totalmente perdido. A solidão total não existe mais. Deus está sempre presente. Mas é necessário que os seus mediadores manifestem esta presença. Se estamos perdidos, estendamos a mão para conseguirmos agarrar outra. Se encontrarmos um irmão perdido, estendamos a mão para que Natal seja verdadeiramente Natal para ele e ele saiba que Deus está bem presente entre os seus.
Que Deus nos abençoe por intercessão de Santo Antonio Maria Zaccaria!

 Por: André Carlos Morais Carvalho – Aspirante Barnabita

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