Neste II Domingo de
Advento, as leituras de Is 11,1-10 e
Mt 3,1-12 são pertinente e nos
apresenta algo para refletir sobre a hora de construir utopias. A nossa vida
humana está carregada de experiências. Vivemos as realidades físicas uma vez
apenas, isto quer dizer, ninguém nasce duas vezes, morre duas vezes, passa pela
infância e adolescência duas vezes.
Para reviver
acontecimentos marcantes da nossa vida, criamos ritos, símbolos, sacramentos.
São importantes, tendo-os vivido uma vez, achamos pouco, por isso, a cada ano,
no dia do nosso nascimento, o revivemos simbolicamente e chamamos de
aniversário. Temos necessidade de refazer a nossa história, ainda que
simbolicamente.
O mundo foi criado. Há
cientistas que nos apresenta teorias sobre a criação, segundo eles, já passaram
milhões de anos, houve uma explosão, isso nos disse a teoria do big-bang. Assim
chega um tempo e surgiu a vida sobre a Terra. Imaginemos que nesse processo
aparece depois de muitos anos o povo de Israel, os personagens: Abraão, Moisés,
os profetas. Depois veio também Jesus, até que viemos nós. Chega o Natal, e
recordamos tudo: a criação do mundo, os grandes profetas, reaparece João
Batista. Muitos personagens voltam, mas voltam no símbolo, no sacramento, no
rito, numa provocação e significado.
Isaias trás na
primeira leitura uma das imagens mais utópica mais bonita da história humana. O
povo está numa situação difícil de carência e perigo. Olha para a realidade e
não vê nada, nenhuma solução. Muitas vezes, no Brasil, vivemos essas situações.
Não víamos nenhuma esperança. Agora também, vivemos um pouco essa situação:
corrupção na política, violência na sociedade. Que saída nós temos?
Perante uma realidade
como essa o povo se sacode e procuram figuras proféticas, personagens e
possibilidades de saídas que chamamos de utopia. Por exemplo: depois de um
período de regime militar ditatorial que no começo, talvez, deu esperança, mas vieram
torturas, exílio, cárceres, e parecia que tudo acabou em morte em fatalidade.
Posteriormente veio o período da democracia, então ressurgiu a esperança, porém
chegou de certa disfarçada continua a violência, tortura, escravidão agora com
outro tinte.
Israel vivia situação
semelhante. Veja bem: Isaias era um homem como um de nós, ao lado daquele povo,
viviam impérios poderosos: assírios, babilônicos que de fato, irão destruir
Jerusalém e levar os judeus para o cativeiro. Nesse contexto, o profeta
descreveu tudo aquilo que poderia acontecer, mas, iria nascer de dentro do
povo, uma raiz de Jessé. Claro que é difícil entendermos o significado, porque
não somos judeus. Jessé é o pai de Davi. Portanto, Alguém vai nascer de sua
linhagem trazendo uma nova realidade.
Isaías começa a jogar
com as imagens da época, colocando as lutas e os conflitos entre figuras de
animais. Estas imagens são para dizer que a justiça de Deus eliminará a
maldade, e nós viveremos num mundo de paz. Até hoje, Israel nunca viu isso.
Isaías profetizou no ano 700 antes de Jesus Cristo e nós já estamos no ano
2016. Quanta violência, quanta destruição da natureza, quantos crimes!
Setecentos anos antes de Cristo, Isaías já sonhava com o que ainda não
conseguimos até hoje.
Será lindo o dia em
que pais e mães puderem deixar seus filhos pequeninos brincarem sozinhos numa
praça. Isso se chama utopia. Neste tempo, estamos nos aproximando do Natal,
somos chamados e convidados para pensar nessa raiz de Jessé, isto é, nessa raiz
da qual nasceu Davi e da linhagem de Davi nasceu Jesus, e está entre nós, quer
nascer de novo no meio de nós.
No evangelho
reapareceu João Batista, aquele que reconcilia o povo para receber Jesus. Ele
está falando a cada um de nós. Precisamos reconciliar para receber Jesus no dia
25. Ele já veio, mas continuará vindo. Devemos retomar nossa conversão, voltar
ao batismo, mudar de direção. Se percebermos que não estamos no melhor caminho,
é hora de buscar o que João nos sugere: o batismo da penitência.
Ao falar da penitência,
o texto nos apresenta três coisas: jejum,
esmola e oração. Jejum não é apenas deixar de comer, porque muita gente faz
jejum para emagrecer e ficar mais bonita. O jejum significa que nós somos mais
que o alimento. Esmola serve para olharmos os outros e vermos o quanto ainda
não têm o necessário para uma vida digna. Quantos ainda morrem de fome em
vários países e mesmo no nosso Brasil. Oração não é pedir coisas a Deus. A
oração me diz que sou incompleto. O importante é saber que não sou onipotente,
e preciso dos outros.
Enfim, rezar é
colocar-se na atitude de quem recebe de quem acolhe. Esmola é partilha. Jejuar
é ter a consciência de que somos maiores do que a comida. Pensemos um pouco sobre
a nossa vida.
Por: Isaac Segovia