Jesus
quer nascer entre nós. Precisamos ficar atentos. Vigiar. Desta maneira começa
este Tempo Litúrgico do Advento, para nos alertar. O texto do Evangelho de Mateus 24, 37-44 nos apresenta o preço
do futuro que estamos pagando desde o dia de hoje.
Muitas vezes,
cometemos o grande equívoco existencial de interpretar os textos e projetá-los
para o fim do mundo. Dessa forma, ficamos tranquilos, porque nenhum de nós,
provavelmente, assistirá esse fim, a menos que algum Império tenha uma loucura
e faça explodir as bombas atômicas. Então morreremos todos, enquanto Noé
constrói a arca da salvação. Portanto, temos a morte guardada em grandes
arsenais atômicos. É algo para se pensar quando formos dormir à noite. Mas na
inocência e ignorância em que vivemos, jogamos o fim do mundo realmente para um
fim distante, e assim continuamos caminhando com a maior tranquilidade, pois
nada tem a ver conosco. Pode morrer milhares de pessoas.
Jesus está anunciando
a proximidade do Reino, não está falando do fim do mundo: ficai atentos e preparados! Ele não está falando de catástrofe, nem
um novo dilúvio, não está profetizando guerras, nem mortes. No Evangelho, Jesus
fala da história humana, do poder que nós temos, seres humanos, temos de nós
matar.
No mundo de hoje,
quem gosta de ler, se informar do que está acontecendo, entenderá bem essa
linguagem, que chamamos de apocalíptica; ela não anuncia o fim, mas fala do fim
que estamos colocando já, aqui e agora. Este é o problema: estamos semeando
morte e não nos damos conta disso. Criamos circunstâncias e elementos que são
causa de nossa própria destruição. Um exemplo: de tempos em tempos, lemos a
noticia nos jornais que o Brasil subiu na escala mundial por ter aumentado sua
produção. Ficamos felizes, mas não percebemos que, quando crescemos em algo,
pagamos um preço alto, porque subimos à custa de alguma coisa ou de alguém.
Veja bem, se desmatássemos a Floresta Amazônica e plantássemos soja, seríamos,
com certeza, o pais mais rico do mundo, mas provavelmente, à custa da
destruição da humanidade, por isso disse: "duas mulheres estarão moendo no
moinho: uma será levada e a outra será deixada" (v.41). Outro exemplo:
cidade grande cresce, que coisa linda! Isso significa mais cimento, mais
asfalto, mais carro, mais poluição, mais calor, mais destruição.
Quando lemos noticias
extraordinárias de progresso, não podemos nos deixar enganar pela propaganda,
principalmente agora, que estamos na grande corrida consumista do Natal. O que
está por trás de uma propaganda é silenciado para o progresso aparecer.
Precisamos tomar consciência de que o futuro dos filhos e netos está em nossas
mãos. Um simples gesto de fecharmos as torneiras, apagarmos as luzes
desnecessárias é urgente.
Hoje, Jesus nos
pergunta: por que estamos criando cenários de morte? Estamos no Advento, um
tempo de pensar, de sonhar, de olhar para um horizonte mais esperançoso, Jesus
quer nascer no meio de nós. Quando pensamos em Natal, imaginamos noite feliz,
um menino nascendo, as crianças brincando. Assim sentimos o cheiro do Natal,
que fala de paz, de beleza, de alegria, de harmonia.
Enfim, este Evangelho
quer nos dizer para sermos mais realistas, olhar a realidade e ao mesmo tempo,
olhar para o Jesus que quer nascer no meio de nós. Nasce pequeno, junto com os
mais pobres e miseráveis. O mais importante que nos cabe fazer é modificar
nossas relações, nos fazer humanos uns com os outros, porque do contrário nos
destruiremos.
Por: Isaac Segovia