1. Problemática da cristologia atual
Depois do
Vaticano II a reflexão sobre a cristologia teve um grande espaço dentro do catolicismo
já que toda a base e sentido da fé estão em Jesus Cristo. Efetivamente, essa
certeza vai ajudar muito a reconquistar novamente a universalidade da Igreja.
Do mesmo modo,
no mundo existe ruptura entre fé e vida. As mesmas religiões não respondem as
novas questões e a Igreja está com crise de identidade. A meu ver, é neste
contexto onde a cristologia vai ter um campo de encarnação para demonstrar a
reconciliação de Deus com o mundo, uma reconciliação que, sobretudo é dom de
Deus e depois tarefa humana.
Certamente para
Kasper os pensadores como Ranher, Chardin, Braun buscavam re-interpretar o
dogma de Calcedônia: “verdadeiro Deus e verdadeiro homem numa pessoa”, decerto
estes autores tiveram em conta os métodos e categorias filosóficas para ter uma
compreensão melhor. Apesar de, H. U. von Balthasar considerou que não se deve
colocar a Jesus Cristo num esquema filosófico ou ideológico.
Outra linha de
pensamento é a redescoberta do Jesus histórico (com Metz, Marxsen), que procura
colocar um fundamento histórico à fé em Cristo. No entanto, esta corrente pode
ser útil, mas é imprecisa porque os evangelhos não têm interesse pelo simples
fato histórico.
Seguidamente, a
cristologia vai ter diferentes perspectivas de trabalho: em primeiro lugar está
a cristologia orientada historicamente. Partindo da profissão: “Jesus é o
Cristo” é preciso mantê-la viva na memória, claro que enfrentando posturas
extremas como as de H. S. Reimarus, D. F. Strauss, A. Schweitzer. Com toda
certeza a tarefa seria então aceitar que a questão histórica sobre Jesus tem
sua relevância teológica.
Segundo, a
cristologia de alcance universal. Como vemos, há exigências de dialogar
criticamente com a tradição e sair ao encontro do mundo. Além disso, é
obrigatório nesta época ter atitude aberta e pluralista porque a cristologia
não pode fechar suas portas perante as novas questões da realidade.
Terceiro, a
cristologia determinada soteriológicamente. Este ponto resume as duas tarefas
anteriores porque a pessoa e história de Jesus são inseparáveis da sua
importância universal. Veja-se que com a soteriologia e a cristologia a realidade
da salvação é assegurada à defesa da verdadeira divindade e a verdadeira
humanidade de Jesus.
2. A questão histórica sobre Jesus Cristo
É provável
historicamente que a figura de Jesus transformou o movimento do mundo durante
estes dois milênios. Apesar de que, Jesus para nós é somente acessível por meio
da fé das primeiras comunidades cristãs. Mantemos viva a fé em Jesus desde o Novo
Testamento e a tradição; e agora a comunidade ocupa o contexto vital (Sitz im Leben).
Consequentemente
em 1953, Erns Käsemann recomendou
voltar à questão liberal sobre o Jesus histórico, ainda que não seja algo
resolvido. Em suma, foi observado que nos sinópticos existem forças históricas
sobre a figura de Jesus e há uma mescla entre a mensagem original e a narração,
por tudo isto o estudo histórico-exegético tem valor.
A saber, tendo
em conta os avanços da hermenêutica, a intenção é rejeitar todo mito sobre
Jesus. Cristo se encarnou e a sua vivência humana tem importância salvífica. Na
verdade, o novo enfoque proposto consiste em ter presente o kerigma, sem separar ela da
interpretação e da tradição, tudo isso com o objetivo de tirar a mensagem falsa
da verdadeira, convém discerni-la.
Em conclusão,
se pretende demonstrar a unidade entre o Jesus ressuscitado e o Jesus terreno.
3. A questão religiosa sobre Jesus
Cristo
“Jesus o
Cristo” constitui a resposta sobre a salvação e redenção. Mas já no Novo
Testamento houve perguntas sobre o Jesus: “És Tu aquele que há de vir, ou
devemos esperar outro?” (Mt 11,3). Além disso, existiam diferentes formas de
esperar o Cristo. Os judeus esperavam um libertador descendente de Davi. Os
zelotas aguardavam um líder guerrilheiro. Os apocalípticos queriam a vinda de
um reino supra-terreno. Percebe-se que as posturas ao respeito do Cristo foram
e continuam sendo variadas.
Supondo que a
secularização coloca o homem como ponto de partida e medida de toda a realidade
para se desprender tranquilamente de Deus. Uma postura atual diante de Cristo? Ainda
assim, surge a intenção de criar um programa para desmitologizar a fé em
Cristo. Aqui mitologia refere-se sobre um jeito de entender o divino a modo
mundano e o mundano de maneira divina (Bultmann). Quer isto dizer, o homem
deixa de ser infantil e começa a ser adulto na sua fé, claro que isso se
consegue procurando a verdadeira intenção das escrituras sagradas.
Por outro lado,
K. Ranher assume que pode ser feita uma cristologia orientada
antropologicamente já que a humanidade de Jesus deve ser entendida como um
símbolo real de Deus. A meu ver a proposta é de uma cristologia “desde abaixo”
que tem como finalidade a cristologia transcendental.
No entanto o
concilio Vaticano II observou a humanidade num período crítico e em profundas
transformações. Efetivamente a salvação passa para um segundo plano diante do
bem-estar temporal e material experimentado pelo homem. Portanto neste
contexto: como falar de Jesus Cristo? De que maneira manter algo absoluto diante
do relativismo? A raiz destas questões justamente W. Kasper vai afirmar que o
mundo não pode chegar à perfeição por si mesma. Unicamente partindo de Cristo
pode adquirir toda a plenitude. O homem age livremente e deve transformar a realidade,
mas sem abandonar a Deus.
Portanto, a
humanidade tem anseio de vida, de justiça e liberdade. De tal forma que, hoje
novamente surge para Jesus a pergunta: “És Tu aquele que há- de vir, ou devemos
esperar outro?” (Mt 11,3).
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
Kasper, Walter, Jesúsel Cristo, Salamanca, Sal Terrae,
2013. p. 9-74.