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Artigo: Imagem de Jesus irmão

27 de agosto de 2014

Jesus Cristo é o nosso ponto de partida para esta reflexão. Cristo, face visível da Trindade (cf. Cl 1,15), será sempre a referência e o ponto de partida para a vida e o seguimento de todo batizado e, portanto, também para a Vida Religiosa. O batismo é a nossa herança comum como cristãos, sem exceção, é a porta de entrada para todos os outros sacramentos para seguir Cristo.
Ora, parece tão óbvio que Cristo seja o ponto de partida para a vida de todos os batizados! No entanto, aqui cabe uma pergunta: qual Cristo se toma como modelo de seguimento? O fato é que existe uma multiplicidade de leituras acerca daquilo que foram os gestos, as palavras e a vida de Jesus, sendo que algumas leituras podem ser excludentes e contraditórias.
Neste ponto, a pergunta crucial de Jesus a Pedro é sempre pertinente: “quem dizem os homens que eu sou?” (Mc 8,27). O Cristo é um só, mesmo que se tenha criado muitas imagens sobre ele principalmente na VRC (Vida Religiosa Consagrada). Porém, revela também a própria diversidade de carismas dos diferentes Institutos de Vida Consagrada e das Sociedades de Vida Apostólica, tudo sinaliza essa pluralidade de acentos e percepções acerca da vida de Jesus e de sua imagem. Para uma compreensão melhor, em seguida veremos como surgiu uma imagem forte de Jesus sacerdotal dentro da hierarquia.
A Igreja Católica, e principalmente no Concílio de Trento (1545-1563), afirmou com força contra a ideia protestante do sacerdócio universal a especificidade do sacerdócio ministerial e o caráter hierárquico da Igreja. E aí passa a ser valorizado mais o sacramento da Ordem Presbiteral em relação ao sacramento do Batismo. Consequentemente, passou-se a acentuar mais a dimensão sacerdotal de Jesus em uma perspectiva ministerial, e daí vem a compreensão do sacerdócio (clero) como alguém “superior” dentro da Igreja.
Diante desse quadro de afirmação de Jesus sacerdote, é importante para os religiosos irmãos lançar luzes sobre a dimensão fraterna da vida de Jesus, revelada por meio de sua encarnação, vida, morte e ressurreição. Uma cristologia com ênfase no sacerdócio de Jesus não pode e não deve contrapor uma cristologia com ênfase no Jesus irmão. Isto porque o ministério de Jesus não foi a da linha sacerdotal, não pertencia à tribo de Levi e nem à família de Aarão. Em nenhum momento Jesus é visto pelos seus contemporâneos associado à figura de um messias sacerdotal.
Temos que levar em consideração que os sacerdotes do tempo de Jesus exerciam a função de absolutização e sacralização da ordem vigente, isto é, a lei mosaica. Jesus entrou em confronto com os representantes desse sacerdócio, pois, no Reino inaugurado e proposto por Jesus, o único absoluto era o Pai. Os três pilares do judaísmo – lei, sábado e templo – absolutizados pelos doutores da lei, fariseus e sacerdotes, são relativizados por Jesus. Essa posição de Jesus em relação à absolutização do tripé lei-sábado-templo foi a causa remota da sua condenação à morte pelo sinédrio (cf. Mc 14,53-65; Mt 26,57-68; Lc 22,54.66; Jo 18,12-14.19-24).
Por isso, é importante recuperar de novo hoje a imagem de Jesus irmão, pois vai nos ajudar a compreender o porquê de um confrade assumir sua vocação de irmão dentro de uma Ordem de Clérigos. A vida religiosa é um campo fértil onde todos os religiosos, em primeiro lugar, são chamados a serem irmãos em Cristo, profundamente unidos a Ele (cf. Mt 23,8; Rm 8,29), irmãos para uma maior fraternidade na Igreja.
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