“Você, que traz
em si a imagem Daquele que é a nossa vida e se alimenta da sua carne, lembre-se
de que deve ser generosa e que Jesus Crucificado sempre foi generoso com todos
vocês. Justamente por causa disso, como é que nós, que os amamos como a nós
mesmos, poderíamos deixar de ajudá-los?”
(Santo Antonio
Maria Zaccaria 1.06.07*)
O milagre “sempre” vem
A paternidade de
Deus é perfeita. Movido por um amor colossal, com a firme vontade de nos levar
a caminhar rumo à vida eterna, Ele enche nossa vida de bens materiais e
espirituais.
Em sua
trajetória terrena, o ser humano algumas vezes encontra momentos de “bonança” e
outros de deserto. No entanto, é muito importante ressaltar que em ambas
situações, necessita da graça de Deus para viver. Nos momentos de tranquilidade
precisa do seu Criador para viver com maturidade cada segundo, buscando
aproximar-se cada vez mais a seu Artífice, sem esquecer que todas as graças são
presentes que provem Dele, que o faz experimentar um pouco do que será o gozo
da vida celestial. Nas ocasiões de
dificuldades, é de suma importância não esquecer que o ser humano necessita de
Deus, pois sem a inspiração Divina, não conseguirá atravessar a “poça de lama”
sem se afogar. O crescimento gradual na experiência de fé, comporta a necessidade
de não esquecer nunca que o Divino Mestre é a estrela que nos indica o caminho
a seguir.
Muitos, conduzidos
por sua cegueira espiritual, dizem: “Eu não escuto a Deus!” ou “Deus se
esqueceu de mim”! Estas exclamações podem ser confrontadas com algumas interrogações:
Em que momento de sua vida você parou para escutá-lo? Ou “Quais respostas você
buscava, a que realmente necessitava ou só a que queria ouvir?” Deus está
disposto a nos ajudar, em todo momento nos abre portas, contudo nosso
egocentrismo, adjacente a nossa cegueira espiritual, turba e opaca nossa
capacidade de ler os sinais de Deus em nossa história. Sempre que um coração
quebrantado clama o nome de Jesus, Ele se coloca o mais perto possível. Mas,
não o faz com o afã de construir uma
relação instrumentalista, comercial, senão com o anelo de construir uma relação
impregnada de um amor proexistente (que
vive em prol dos demais). Deus não é o mordomo da casa que aparece ao som de
uma sineta para satisfazer nossos caprichos. Para iluminar o que se foi
mencionado anteriormente faço alusão ao terceiro sermão de Santo Antônio Maria
Zaccaria: Deus é muito mais do que uma
babá ou que um professor, pai e mãe (SAMZ 2.03.04). Mesmo assim, Ele se mostra tão amoroso, como filho, pai e
mãe e sempre está com você; e se você se separa dele, Ele o procura, o chama e
sempre o convida (SAMZ 2.02.05).
Não é o objetivo
principal de nossa reflexão fazer um tradado teológico sobre o significado do
milagre como ação de Deus no mundo, no entanto, para iluminar o caminho que
estamos traçando aqui, faremos uma alusão sucinta sobre o que o mesmo
significa: Em 1R 18,37 a intervenção de Yahvé mostra que Ele é
o Deus de Israel e, portanto, no coração deste povo não há espaço para Baal
deus dos pagãos. Em 2R 4,8-37 Eliseo cura o filho da sunamita demonstrando que
Deus é o autor da vida e, portanto, tem poder sobre ela. No Salmo 74,15 no meio
das lamentações trás o saqueio do templo, o autor faz menção aos prodígios de
Deus no êxodo com o qual aponta o fato de que aquele povo não caminhava
sozinho, era o próprio Deus quem o ajudava a superar os momentos de
dificuldades em seu processo de libertação (Ex 14,15ss). É de suma importância
resaltar que Moises, Elias e Eliseo são apresentados como “instrumentos” que
Deus utiliza para realizar Seus prodígios.
Mateus e Lucas apresentam os milagres como
sinais da chegada do Reino de Deus. É o Criador que se “envolve” nas
problemáticas da criação, demonstrando que não é indiferente ao seu sofrimento,
é o dedo de Deus entrando no tempo (Mt 12,28; Lc 11,20). Isso, no fundo, é uma exortação a uma mudança de vida
(Jn 8,11), é um convite a acolher na fé, a boa nova (Mc 5,14). Em síntese, se
entendemos o milagre como ação de Deus no mundo, no qual Deus, como doador de
todas as graças é a causa primaria e a criatura, como “instrumento”, é a causa secundária,
é possível afirmar que tal ação é expressão da vontade providente de um Deus
uno e trino, que opera movido pelo seu amor, que se revela ao ser humano como
uma comunidade de amor, comunicação e
doação.
Deus quando age o faz
trinitariamente, o seja, nenhuma das pessoas da Trindade procede separadamente.
Quando Cristo cura o faz em nome do Pai e através do Espírito Santo. Na consagração eucarística, os dons se
transformam em Corpo e Sangue de Jesus porque Deus Pai envia o seu Espírito.
Somos constantemente convidados a estar em sintonia com a Trindade, a fazer que
a entrega, o amor, o diálogo a comunhão sejam
fatores presentes em nossas vidas. Desde este ângulo é possível entender a Eucaristia como um constante convite a
viver em comunhão com Deus e, consequentemente, com os seres humanos (1Co
11,17-34). Tais elementos devem marcar nossa relação com o mundo e com Deus.
O milagre sempre vem, porém
muitas vezes não se manifesta da maneira que desejamos. Deus consegue ver mais
longe, seu olhar não está guiado por um sentimentalismo cego, mas sim por um
amor incondicional que nos presenteia não meramente as coisas que queremos,
senão as coisas que realmente necessitamos.
Em outras palavras, muitas vezes nossas orações são movidas por emoções
passageiras, e não percebemos que nossos pedidos seriam, em um futuro distante ou
próximo, pedra de tropeço no “caminho da nossa existência”. O verdadeiro pai não é aquele que sempre diz
sim a seus filhos. O verdadeiro pai não é aquele que faz a vontade de seus filhos
sem analisar as consequências. O
verdadeiro pai é aquele que, quando necessário, tem a coragem de dizer NÃO. O
verdadeiro pai, é aquele que ao escutar os pedidos de seus filhos, avalia a
situação antes de tomar uma decisão. Assim é Deus: em sua infinita sabedoria,
nos escuta e nos concede as graças na justa medida.
Visto que a autêntica
paternidade é aquela que, fazendo-se presente, atua com solicitude e sensatez,
pode-se concluir que a paternidade de Deus é perfeita. Ele sempre escuta nossas
súplicas. Ele, por mais que a cegueira espiritual não nos deixe perceber,
sempre sacia nossas reais necessidades. Por isso, não devemos temer, não
devemos permitir que a desesperação arrebate nossa paz, pois o milagre sempre
vem. Deus sabe o dia, o lugar, a data e a medida certa.
Por:
*Santo Antônio Maria Zaccaria 1.06.07: 1=Cartas; 06=6° Carta; 07=7° parágrafo.