Ao celebrar na manhã de ontem na
Basílica Vaticano a primeira Missa com os 19 novos Cardeais criados ontem, o Papa Francisco os exortou a evitar
comportamentos cortesãos, como os falatórios e as preferências, e animou-os a
que vivam a linguagem do Evangelho, as atitudes das Bem-aventuranças e o
caminho da santidade.
O Santo Padre assinalou que a escuta
do Espírito Santo vivifica a Igreja e a alma, “com sua força criadora e renovadora, o
Espírito sustenta sempre a esperança do Povo de Deus em caminho ao longo da
história, e sustenta sempre, como Paráclito, o testemunho dos cristãos”.
“Neste momento, junto com os novos
cardeais, queremos escutar a voz do Espírito, que fala através das Escrituras
que foram proclamadas”.
Francisco indicou que na Primeira
Leitura de hoje “ressoou a chamada do Senhor a seu povo: ‘Sede Santos, porque
eu, seu Senhor Deus, sou santo’. E Jesus, no Evangelho, replica: ‘Sejam
perfeitos, como o Pai celestial é perfeito’. Estas palavras interpelam todos
nós, discípulos do Senhor; e hoje se dirigem especialmente a mim e a vocês,
queridos irmãos cardeais, sobre tudo aos que ontem passaram a formar parte do
Colégio Cardinalício”.
“Imitar a santidade e a perfeição
de Deus pode parecer uma meta inalcançável. Entretanto, a Primeira Leitura e o
Evangelho sugerem exemplos concretos de como o comportamento de Deus pode
converter-se na regra de nossas ações. Mas, recordemos, todos nós recordemos,
que, sem o Espírito Santo, nosso esforço seria vão”.
A santidade cristã, precisou o
Papa, “não é em primeiro lugar uma conquista nossa, mas o fruto da docilidade –
querida e cultivada – ao Espírito do Deus, três vezes Santo”.
“O Levítico diz: ‘Não odiarás de
coração o teu irmão... Não te vingarás, nem guardarás rancor... mas amarás o
teu próximo…'. Estas atitudes nascem da santidade de Deus. Nós, entretanto,
somos tão diferentes, tão egoístas e orgulhosos...; mas a bondade e a beleza de
Deus nos atraem, e o Espírito Santo pode purificar-nos, pode transformar-nos,
pode modelar-nos dia a dia”.
Francisco assinalou que hoje “Jesus
nos fala no Evangelho da santidade, e nos explica a nova lei, a sua. Ele o faz
mediante algumas antíteses entre a justiça imperfeita dos escribas e os
fariseus e a mais alta justiça do Reino de Deus”.
“A primeira antítese da passagem de
hoje se refere à vingança. ‘Ouviram que lhes foi dito: ‘Olho por olho, dente
por dente’. Pois eu lhes digo: …se alguém te esbofetear na face direita,
oferece-lhe também a outra’. Não só não é preciso evitar devolver ao outro o
mal que nos fez, mas também devemos nos esforçarmos por fazer o bem com
largueza”.
A segunda antítese, indicou o Santo
Padre, “refere-se aos inimigos: «Ouvistes que foi dito: “Hás-de amar o teu
próximo e odiar o teu inimigo”. Pois Eu digo-vos: Amai os vossos inimigos e
orai por aqueles que vos perseguem» (5, 43-44). A quem quer segui-Lo, Jesus
pede para amar a pessoa que não o merece, sem retribuição, a fim de preencher
as lacunas de amor que há nos corações, nas relações humanas, nas famílias, nas
comunidades e no mundo. Irmãos Cardeais, Jesus não veio para nos ensinar as
boas maneiras, as cortesias; para isso, não era preciso que descesse do Céu e
morresse na cruz. Cristo veio para nos salvar, para nos mostrar o caminho, o
único caminho de saída das areias movediças do pecado, e este caminho de
santidade é a misericórdia, aquela que Ele usou e usa cada dia conosco. Ser
santo não é um luxo, é necessário para a salvação do mundo. Isto é o que Senhor
nos pede.
Queridos Irmãos Cardeais, o Senhor
Jesus e a mãe Igreja pedem-nos para testemunharmos, com maior zelo e ardor,
estas atitudes de santidade. É precisamente neste suplemento de oblatividade
gratuita que consiste a santidade de um Cardeal. Por conseguinte, amemos
aqueles que nos são hostis; abençoemos quem fala mal de nós; saudemos com um
sorriso a quem talvez não o mereça; não aspiremos a fazer-nos valer, mas
oponhamos a mansidão à prepotência; esqueçamos as humilhações sofridas.
Deixemo-nos guiar sempre pelo Espírito de Cristo: Ele sacrificou-Se a Si
próprio na cruz, para podermos ser «canais» por onde passa a sua caridade. Este
é o comportamento, esta deve ser a conduta de um Cardeal.
O Cardeal – digo-o especialmente a
vós – entra na Igreja de Roma, Irmãos, não entra numa corte. Evitemos todos – e
ajudemo-nos mutuamente a evitar – hábitos e comportamentos de corte: intrigas,
críticas, facções, favoritismos, preferências. A nossa linguagem seja a do
Evangelho: «Sim, sim; não, não»; as nossas atitudes, as das bem-aventuranças; e
o nosso caminho, o da santidade. Rezemos mais uma vez: “A vossa ajuda, Pai
misericordioso, sempre nos torne atentos à voz do Espírito”.
O Espírito Santo fala-nos , hoje,
também através das palavras de São Paulo: «Sois templo de Deus (…); o templo de
Deus é santo, e esse templo sois vós» (1 Cor 3, 16-17). Neste templo que somos
nós, celebra-se uma liturgia existencial: a da bondade, do perdão, do serviço;
numa palavra, a liturgia do amor. Este nosso templo fica de certo modo
profanado, quando descuidamos os deveres para com o próximo: quando no nosso
coração encontra lugar o menor dos nossos irmãos, é o próprio Deus que aí
encontra lugar; e, quando se deixa fora aquele irmão, é o próprio Deus que não
é acolhido. Um coração vazio de amor é como uma igreja dessacralizada,
subtraída ao serviço de Deus e destinada a outro fim.
Queridos Irmãos Cardeais,
permaneçamos unidos em Cristo e entre nós! Peço-vos que me acompanheis de
perto, com a oração, o conselho, a colaboração. E todos vós, bispos, presbíteros, diáconos, pessoas consagradas e leigos,
uni-vos na invocação do Espírito Santo, para que o Colégio dos Cardeais seja
cada vez mais inflamado de caridade pastoral, cada vez mais cheio de santidade,
para servir o Evangelho e ajudar a Igreja a irradiar pelo mundo o amor de
Cristo, concluiu o Sumo Pontífice.
Fonte:
acidigital.com