Por: Cardeal Odilo P. Scherer, Arcebispo de São
Paulo.
No próximo dia 24 de novembro, Domingo de Cristo
Rei, será celebrado o encerramento do Ano da Fé. Em muitas igrejas, mais uma
vez, as comunidades farão a solene renovação da profissão da fé.
Há, nesse ato, uma força testemunhal muito
expressiva: de fato, não cremos apenas de modo individual e subjetivo, mas em
comunidade, juntamente com muitos outros, que professam a mesma fé. A Igreja é
uma grande comunidade de fé, formada de inúmeras comunidades menores e,
finalmente, de pessoas, que creem pessoalmente e vivem a comunhão de fé com
grande comunidade eclesial.
Não cremos sozinhos, mas com a Igreja toda; e
cremos como a Igreja crê - a Igreja que vive hoje neste mundo e também a Igreja
celeste! São incalculáveis aqueles que viveram esta mesma fé e já nos
precederam na “casa do Pai”. Eles são nossos irmãos na fé, testemunhas e
exemplos de fé, que continuam a nos ajudar a prosseguir e perseverar no caminho
da fé. Estamos, pois em boa companhia e bem amparados!
O Ano da Fé foi uma bênção, pois nos ajudou a tomar
consciência renovada da preciosidade da fé da Igreja e da importância de
professá-la com convicção e alegria. O Ano da Fé termina, mas a vivência da fé
continua; temos agora o nosso compromisso de testemunhar a fé com intensidade e
de traduzir q fé em frutos de vida cristã. Não basta ter iniciado bem o caminho:
é preciso perseverar nele, para alcançar a meta da nossa fé: a vida eterna e a
comunhão plena com Deus.
Primeiros frutos da fé deveriam ser a gratidão e
alegria. A fé é um dom precioso, recebido de Deus, e que requer a nossa
resposta diária através das atitudes de fé. A fé leva a viver em contínua
sintonia e comunhão com Deus e a ter as luzes de Deus (“lumen fidei”), para
iluminar todas as circunstâncias da vida. A fé ajuda a discernir para fazer as
escolhas certas. Viver a fé é viver unidos a Deus; é viver “por Cristo, com
Cristo e em Cristo”, para usar a expressão de São Paulo.
Outra consequência do Ano da Fé deverá ser o
cultivo da fé. Podemos imaginar a fé como uma planta, que precisa ser cultivada
para viver, florescer e produzir frutos. A fé precisa ser alimentada no
encontro pessoal frequente com Deus na oração. Sem oração, a fé enfraquece e
morre, como a planta, que não recebe água. Alimento essencial da fé é também a
Palavra de Deus, acolhida quer na Liturgia, quer em outras ocasiões, como também
na leitura pessoal e orante da Sagrada Escritura.
Para crescer e amadurecer, a fé precisa ser
esclarecida mediante o estudo; de fato, nossa fé também se expressa em
conteúdos e afirmações; não é mero sentimento, mas também afirmação e
convicção. Para ter uma compreensão melhor da fé da nossa Igreja, é importante
ler e conhecer o Catecismo da Igreja Católica; ele é a explicação que a própria
Igreja dá oficialmente sobre os motivos e as bases da nossa fé, sobre seus
conteúdos, sobre como a fé é celebrada na Liturgia e nos Sacramentos, sobre as
consequências da fé para sua vida, mediante a observância dos mandamentos e
sobre como a fé é traduzida no testemunho e na vivência diária.
Finalmente, a fé verdadeira produz frutos, que são
as “obras da fé”, sem as quais ela seria estéril: “a fé, sem obras, é morta em
sim mesma”, afirma S. Tiago. Frutos da fé são as boas obras da justiça,
caridade e solidariedade, que revelam a fecundidade e autenticidade da fé. São
ainda as virtudes humanas e cristãs, que traduzem o jeito de viver de quem está
em sintonia com Deus. É também a prática sincera e perseverante da religião,
expressão da adoração e do louvor de Deus.
Publicado em O SÃO PAULO, ed. 12.11.2013