No mês de setembro somos convidados a colocar
ao longo do dia, a Palavra de Deus num lugar privilegiado.
Dizia São Jerônimo, presbítero, séc. V.:
“Desconhecer a Sagrada Escritura é desconhecer a Cristo”. Ora, não tenhamos
dúvidas de que quanto mais dedicamos tempo à Palavra, tanto mais estaremos
sentindo a presença transformadora de Cristo.
Pois bem, antes de tudo, ser cristão é viver
a espiritualidade de Jesus. Experimentar o dinamismo de Jesus é a coisa mais
importante, que vem antes de qualquer outra coisa. Por isto é preciso nos perguntar: “Como Jesus
vivia a experiência de Deus? Como Jesus vivia para Deus? Como ele se deixava
guiar por Deus”?
Certamente, a Palavra de Jesus nos transmite:
“Espirito e Vida” por isso, o Evangelho não é um livro de história, nem
pretende dar explicações científicas sobre Deus. Foi escrito para transmitir
uma experiência de fé, esperança e caridade.
Igualmente, Deus continua falando a seus
filhos e filhas. Ele vai se revelando constantemente por meio da sua Palavra
seja qual for o método que utilizamos para a escuta.
Hoje, mais do que nunca devemos voltar a
nossa atenção à mensagem que dá Vida; precisamos voltar ao Evangelho, que é sempre
novidade em todas as épocas.
Com efeito, observemos três pontos
importantes em nosso exercício orientado à escuta da Palavra:
“E o
Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). Desde
Jesus (λόγος), vemos como Deus é uma
experiência concreta, uma Presença continua ligada à vida das pessoas. Com
Jesus se queimam os esquemas sem sentido, que não conduzem a lugar nenhum. Ele
não se encarnou para discutir sobre religião e conceitos doutrinais, mas para doar a sua vida pela humanidade. Jesus associa Deus à vida das pessoas. Ele
não desfigura a imagem de Deus presente no mundo. Desde o Verbo, a humanidade experimenta
um Deus próximo e Pai de todos. Deus não se torna propriedade dos bons. Faz
sair o sol sobre bons e maus e possibilita que a vida seja mais humana.
O Verbo encarnado é uma alternativa para o
mundo que se encontra em crise. Portanto, o projeto de Jesus converte-se numa
maneira de viver e entender a experiência de Deus para a construção do mundo.
Este projeto renovador é um acontecimento iminente chamado Reino de Deus. Com
efeito, Jesus não veio ao mundo só para ensinar uma doutrina. Ele anuncia um
fato, algo que está ocorrendo, o Reino de Deus, que, sobretudo, consiste em
construir a vida como Deus quer.
Explicou-lhes o que dele se
achava em todas as Escrituras (Lc 24,27). Atualmente a maioria
dos estudiosos da Bíblia está de acordo em afirmar que os evangelhos foram
escritos à luz da Ressurreição, quer dizer, que a Vida e Salvação estão sempre
presentes em toda a narração. Desde o início, em todo canto da terra, a Igreja
viu muito unido o Antigo Testamento com o Novo testamento, na história da
Salvação.
Jesus e a sua mensagem se tornam patrimônio
da humanidade. Isso nos faz entender que Deus não é propriedade de ninguém.
Deus age de modo livre e gratuito em todas as épocas, tal qual contemplamos na
mesma revelação de Cristo: “Depois de ter falado
muitas vezes e de muitos modos pelos profetas, falou-nos Deus nestes nossos
dias, que são os últimos, através de seu Filho” (Heb. 1, 1-2).
Na “Dei Verbum” se expressa o seguinte: “No
devido tempo chamou Abraão, para fazer dele pai dum grande povo (cf. Gn 12,2),
povo que, depois dos patriarcas, ele instruiu, por meio de Moisés e dos
profetas, para que o reconhecessem como único Deus vivo e verdadeiro, pai
providente e juiz justo, e para que esperassem o Salvador prometido; assim
preparou Deus, através dos tempos, o caminho ao Evangelho”.
Não queda outra que destacar o Evangelho no
centro da Igreja. O evangelho está em toda época e desde o início da Igreja.
Em resumo, o evangelho partilhado é o mais
comum para atualizar o que aconteceu na Galileia, não importa o número de
pessoas reunidas (entorno à Palavra) porque Cristo dizia: “Onde estiverem dois
ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles” (Mt 18,20).
O
que vimos e ouvimos,isso vos anunciamos (1Jo 1,3). A
espiritualidade de Jesus nos impele ao testemunho, nos leva a viver o projeto
de Deus.
Hoje é bom questionar si o nosso culto, rito
e liturgia estão orientados à compaixão com a vida e o sofrimento das pessoas.
Para testemunhar um compromisso compassivo é
preciso deixar que o sofrimento do outro entre em nossa vida. Não podemos
passar longe como o sacerdote e o levita (cf. Lc10,31-32); deve-se procurar um
princípio de ação.
Em síntese, a humanidade tem alma em Jesus. Se
voltamos a Jesus por meio da Palavra o nosso seguimento será muito mais autêntico.
Qual é o projeto de Deus para mim?
Autor:
Referencia
bibliográfica
Bíblia Tradução Ecuménica. TEB. - São Paulo : Loyola, 1994.
Bíblia Sagrada. CNBB. - São Paulo : Canção Nova, 2012.
Dei
Verbum. Vaticano
II. - Roma.
Vocabulario
Griego del Nuevo Testamento. Sígueme
Editorial. - Salamanca : Sígueme, 2001.