“A
quaresma é o tempo favorável pelo qual todo cristão é chamado, como suplica a
oração do I Domingo da quaresma, a progredir no conhecimento de Jesus Cristo e
corresponder ao seu Amor por uma vida santa” (ACMC)
Caros
irmãos e irmãs, saudações no Cristo Crucificado!
Percebe-se
pela análise dos textos que a Liturgia diária e dominical propõe, ao longo desse período de preparação
à Semana Santa, a compreensão de quão vasto e sábio é o Plano de Deus sobre o
homem. A partir da condição pecadora do homem, Deus quer realizar a divinização
do mesmo, mediante o dom do próprio Filho.
A condição do homem é vista em toda a sua miséria. O fiel é, assim,
chamado a tomar consciência da mesma, sem nunca esquecer que o Deus
misericordioso quer dela resgatá-lo mediante uma liberal e gratuita ação de
salvação. Contudo, antes mesmo de falar do Salvador, os textos litúrgicos
apresentam os compromissos de uma regeneração (o fiel deve ser temente a Deus e
viver o compromisso da purificação dos pecados, do serviço e da comunhão com a
fé dos apóstolos). A figura de Jesus Cristo é central na apresentação do Plano
de Deus sobre o homem, porque nele se revela toda a Sabedoria do Pai e o
Caminho que o homem é chamado a trilhar. Cristo é o Reino, condição gratuita e
universal de salvação no Espírito. Pela sua Encarnação, através da Paixão e
Morte, ele vai fazer de nós, seu Corpo, o seu Templo. A História de Israel deve
ser meditada porque nos admoesta quanto à forma de viver a Aliança que Deus
estabeleceu conosco em Cristo. A Quaresma, enfim, nos alerta a não endurecermos
o nosso coração diante de mais uma manifestação do amor misericordioso do nosso
Deus que, pacientemente, a cada ano, nos chama à conversão.
Quarta feira de cinzas
Iniciamos o terceiro tempo do ano
litúrgico. A Profecia, no Advento, nos exortou do Mistério que realizaria o
Plano de Deus. O Tempo do Natal no-lo mostrou. Pela quaresma,
advertimos a importância em aprofundar a compreensão da Pessoa de Jesus Cristo.
Deus se agrada com essa nossa atitude porque é o instrumento eficaz para
resistir às concupiscências da carne. A nossa convicção corresponde ao que nos
ensina a Sb. Deus ama as suas criaturas, como uma mãe ama o seu filho. Seu
único desejo é que entendamos que a penitência é o caminho para superar os
entraves da nossas concupiscências.
O conteúdo dos textos que nos serão
apresentadas ao longo da Quaresma, alimentarão o propósito da nossa abstinência
dos desvios do pecado que nos escravizam ao espírito do mal.
1º Jesus se apresenta na condição de
Filho do Homem, a Glória de Javé. Na sua autoridade, nos ensina o caminho da
nossa glorificação, mostrando na sua humanidade o modelo. Ela chega à
glorificação mediante o sacrifício da vida. As tentações que o Novo Adão
supera, indicam o caminho da realização do homem.
2º A motivação é a Vida eterna,
superior a qualquer vantagem que possa ser conquistada ao longo da vida
terrena.
3º Nossa confiança está em reconhecer
que nele há o poder da nossa cura, porque ele é o médico.
4º A nossa esperança está nas Núpcias
que o Filho do Homem realizará com a humanidade, associando-a à Glória da
Divindade.
Jesus é a fonte da Água que jorra para
a vida eterna
É o Filho que faz tudo o que vê o Pai
fazer, a quem, o Pai deu o poder de dar a vida
É a realização da Profecia, anunciado
por João Batista.
É a fonte da Água vida com a sua
ressurreição.
É a Luz do mundo, o “Eu sou”, a Glória
de Javé que se revelará com a sua “elevação”.
Quando o sacerdote benze as cinzas,
pede a Deus a riqueza da graça que elas podem nos transmitir. O nosso gesto de
inclinar a cabeça não deve assemelhar-se ao de um junco que se dobra ao vento
(Is 58,5) e que volta a reerguer-se como se nada tivesse acontecido. Quer ser o
início de um tempo favorável, durante o qual o nosso Criador possa agir pela
sua Palavra da Verdade que nos regenerou à vida (Tg 1,18), infelizmente perdida
por causa dos nossos pecados. Com a Quarta-feira de Cinzas queremos voltar ao
Senhor de todo coração, pelo esforço do nosso entendimento até chegarmos ao
pleno conhecimento de Cristo, para que em nós prevaleça a vida do Espírito, sem
mais voltarmos a ser escravos das paixões da carne. São Tiago declara que quem
é amigo do mundo é inimigo de Deus (Tg 4,4). Nós, agora, queremos voltar a ser
amigos de Deus pela prática da virtude. Não faltarão as tentações. Na medida em
que as superamos iremos adquirir uma virtude comprovada, até chegarmos a viver
a liberdade do Espírito.
Jesus, pelo seu Discurso da Montanha
(Mt 5-7), sintetiza o nosso programa ascético dizendo que nossa vida deve ser
uma vida de oração, caridade e mortificação. A oração tem como ponto de partida
a contemplação das obras do Criador, máxima das quais é a obra da nossa
redenção. A caridade é a vivência responsável da nossa específica vocação, pela
qual contribuímos para a edificação da Igreja, sem esquecer as obras de
misericórdia. A mortificação é a constante renúncia ao mundo para que não volte
a reproduzir-se em nós a história do pecado.
“Que o Senhor abençoe com a riqueza da
sua graça as cinzas que vamos receber”.
Pensamentos sugeridos pelos textos
litúrgicos do dia
A Antífona de Entrada nos
diz que Deus é compassivo e se agrada com a nossa penitência a ponto de perdoar nossos pecados. Está traçado o
caminho da santificação: pela obediência aos mandamentos de Deus chegamos ao
conhecimento de Deus. A sua vida, então vive em nós, porque em nós está a
Sabedoria, a Bondade, a Beleza e o Poder do Espírito: em nós se edifica a nova criatura, à imagem do seu Criador.
A oração do Dia
reafirma a necessidade de penitência: ela nos fortalece contra o mal.
1ª Leitura. Deus vê os nossos erros, a
nossa cegueira. Pacientemente, então, tenta nos corrigir. Não nos castiga como
merecem nossas faltas. Ele é benigno, compassivo, paciente e cheio de
misericórdia.
2ª Leitura. A motivação para a
penitência é Cristo, Aquele que não cometeu nenhum pecado e que Deus fez pecado
para nós, como diz Isaias: “Carregou sobre si as nossas culpas”. Foi na
obediência e na imolação que chegou à perfeição.
A aclamação nos
adverte contra a impenitência.
Evangelho. A
esmola, o jejum e a oração promovem o que a penitência nos propõe diante da
morte que o pecado provoca em nós.
Benção das cinzas nos lembra o dever
de prosseguir na Quaresma o que nos propomos com as cinzas, em vista da
celebração da Páscoa, que nos lembrará Aquele que nos remiu e nos sepultou na
sua Morte para nos fazer ressurgir com ele.
Oração sobre as oferendas. Infelizmente, os maus
desejos sempre voltam para nos tentar. São a penitência e a caridade que os
vencem.
Antífona da Comunhão. O ponto de partida para a
penitência é a meditação da Lei do Senhor. É a mais alta caridade que podemos
nos fazer. Quem a medita dará frutos a seu tempo como uma árvore plantada à
beira das águas.
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