Neste
dia dedicado a Santo Alexandre Sauli, queremos por meio desta tradução tirada
da obra San Carlo e i Barnabiti[1]
do Pe. Giuseppe Maria Bassotti, ex-Superior Geral dos Padres e Irmãos Barnabitas,
especialmente na parte dedicada a São Carlos Borromeu e Santo Alexandre Sauli,
expor um pouco a história da nossa congregação, particularmente, no que se
refere à amizade entre dois grandes santos da Igreja: Carlos Borromeu e
Alexandre Sauli, que juntos escreveram uma das mais belas páginas da história
da nossa congregação.
Os Barnabitas “Coadjutores dos Bispos”
Aquele que mais ajudou a Borromeu
foi sem dúvida Santo Alexandre Sauli. De Pavia ele foi chamado para Milão para
o Primeiro Concílio Provincial, onde teve parte não pequena como teólogo
relator da seção De contractibus
illicitis[2]
e como revisor dos livros, junto ao jovem Pe. Bonfanti[3].
No
mesmo Concílio Provincial, todo o material relacionado à reforma dos mosteiros
foi tomado totalmente das Angélicas[4], como disse Paola Antonia
Sfondati na história do mosteiro de São Paulo: “Os nossos costumes foram
considerados tão úteis e bem instruídos, que pelos primeiros ministros do
Ilustríssimo Cardeal Borromeu, no princípio de sua residência, foram escolhidos
para ordenar o Concílio Provincial na questão das monjas, como eles mesmos nos
diziam e vós sabeis; sendo que nas coisas da clausura particular, na forma das
grades e dos parlatórios, tudo estava em uso desde o princípio; a forma das
visitas aos visitantes, as rígidas licenças das nossas superioras, a forma de
celebrar, a maneira da oração mental e a medida de duas vezes ao dia, a vida
comum com a renúncia de toda propriedade e coisas semelhantes...”[5].
O
período mais intenso de colaboração de Alexandre Sauli com São Carlos foi sem
dúvida desde 1567 a 1570, isto é, desde quando foi eleito Superior Geral a
quando foi proclamado bispo. Desde 1566 ele era frequentemente chamado a Milão
pelo Santo, e os Superiores destinaram precisamente para Pavia o Pe. Bonfanti a
fim de que substituísse Alexandre Sauli no ensino durante estas ausências[6]. Desde 1567 o jovem padre
Alexandre Sauli tornou-se o conselheiro do arcebispo, que em uma carta de 11 de
janeiro de 1570, falando dele ao Ornamento[7], louva “o prudente
conselho seu, do qual me valho quase habitualmente”[8].
E
quando Alexandre Sauli foi eleito bispo, São Carlos pediu ao Geral dos Jesuítas
de fazer morar em Milão o novo Provincial Pe. Leonetto, porque “devido a partida
do Monsenhor Bispo d’Aléria[9], tendo o escolhido para aconselhar-me
e para consultar consigo asa coisas da minha consciência nas ocasiões mais
importantes”[10].
Além
do mais, os biógrafos de São Carlos Borromeu notaram que em 1568 quando São
Carlos permaneceu muito tempo em Mântua e monsenhor Costelli adoeceu, Alexandre
Sauli foi praticamente o Vigário Geral da arquidiocese milanesa (14).
Muito
solicitado foi Alexandre Sauli por São Carlos Borromeu, e mais ainda o teria
solicitado, se pudesse dispor dele mais tempo. Quando em Bergamo as famílias
dos Albani e dos Brembani estavam em rixas foi enviado ele para estabelecer a
paz[11]. Quando São Carlos provou
um ‘vespeiro’ no convento milanês de Santa Marta porque queria reduzir as
grades dos seus parlatórios às dimensões iguais das Angélicas, foi Alexandre
Sauli a suavizar o zelo do Santo Pastor, aconselhando-o a não insistir: “porque
não é essencial que os parlatórios sejam feitos todos iguais”[12].
Quando
São Pio V concebeu o plano de colocar a frente das dioceses mais necessitadas
alguns bispos inteligentes e santos tirados das ordens religiosas, também a
nossa Congregação – bem conhecida pelo pontífice – teve de sacrificar o seu
Geral. O Papa, por meio do Cardeal Alessandro, deu a incumbência a São Carlos
de comunicar a notícia ao interessado e aos Padres mais velhos, mas estes, em
23 de dezembro de 1569, logo que souberam se lançaram de joelhos diante do
Santo, suplicando-o de interpor todos os seus bens ofícios para evitar esta
‘desventura’[13].
O
Santo escreveu então ao seu representante em Roma, monsenhor Ormaneto a
seguinte carta, que é um verdadeiro panegírico de nossa Congregação: “Tendo eu
informado ao Padre Superior de São Barnabé a resolução de Nosso Senhor de dar-lhe
o cuidado da Igreja d’Aléria em Córsega, ele, por humilde sentimento que tem de
si mesmo, alegou de não ser idôneo: o que eu não admito, conhecendo eu muito
bem as suas qualidades. Por isto, esperei formular o processo e de fazer o
quanto que me compete monsenhor ilustríssimo Alessandrino em nome de Nosso
Senhor; e o enviarei com o outro mensageiro, junto com a informação que poderei
ter sobre o estado daquela Igreja. Entretanto, não posso deixar de submeter a
Sua Santidade a grande angústia na qual se encontram os padres idosos desta
Congregação, aos quais comuniquei a coisa, pelo grande prejuízo que dizem acontecer
pela perda deste homem para sua Congregação, a qual agora depende do prudente
governo dele, e ajudada bastante pela sua doutrina, na qual, para dizer a
verdade, não há igual na sua Congregação, nem mesmo há pessoa adequada como ele
no governo, porque alguns padres pela sua velhice se tornam menos hábeis ao
trabalho, e os outros não têm aquela maturidade de idade, que se convêm para
este trabalho”[14].
E
foi em Carignano que Alexandre Sauli foi alcançado pela ordem de São Pio V de
aceitar sem desculpas o episcopado. São Carlos disto informou a Ormaneto em 23
de janeiro de 1570: “Tendo comunicado a firme resolução de Sua Santidade, o
exortei a aceitar com prazer esta cruz por amor a Deus”[15].
A
consagração ocorreu no Duomo[16] de Milão em 12 de março,
pela mão de São Carlos, de monsenhor Girolamo Ragazzoni, bispo de Bergamo e de monsenhor
Ippolito Rossi, bispo de Pavia, que se autoconvidou. São Carlos também pensou
nos paramentos para a cerimonia (27).
Da
Córsega, Alexandre Sauli continuou por carta a sua amizade com o Santo: a
Amborisana[17]
de Milão conserva um bom número destas cartas, em parte inéditas.
Delas
escolhemos duas, as mais significativas, a primeira em dupla missava (abril de
1570), ocupa-se da sede do Sauli, em Córsega, e a segunda é de 30 de outubro de
1571: nela se transcreve somente o trecho belíssimo no qual São Carlos apostava
numa possível transferência do Sauli para uma diocese da Lombardia.
Mas
o Sauli não cobiçava sedes melhores, mais tarde, quando Gregório XIII quis
transferi-lo para Voghera, escreveu: “Estou disposto a deixar aqui meus ossos”[18].
No
final da vida, São Carlos, a quem lhe perguntava em Roma de sugerir a pessoa
mais adequada para a sede da arquidiocese de Gênova, respondeu que o único era
o Sauli, mas este foi transferido para a sede de Pavia somente por Gregório
XIV, seu ex-aluno[19]. Morto Borromeu, o Sauli
participou vivamente ao luto dos Barnabitas e da arquidiocese milanesa,
lamentando somente de não ter podido participar aos funerais.
Diante
destas páginas tiradas da obra do Pe. Bassotti, percebemos o quanto São Carlos
Borromeu nutriu uma amizade profunda e sincera com Santo Alexandre Sauli e com
os primeiros padres Barnabitas, que juntos não mediram esforços na santificação
do povo de Deus.
Santo
Alexandre Sauli, rogai por nós!
São
Carlos Borromeu, rogai por nós!
Traduzido por:
[1] BASSOTTI, Giussepi M. San Carlo e i
Barnabiti: lettera ai confratelli. Roma, 1984, p.7-16.
[2] Giussani-oltrocchi, De vita et rebus
gestis S. Caroli Borromei, Milano 1751, p. 445 nota A; Menologio dei Barnabiti,
X, p. 95.
[3] GERBIL, Giacinto Sigismondo, Vita di S.
Alessandro Sauli, Milano 1861, pp.41-42.
[4]
Congregação feminina fundada por Santo Antonio Maria Zaccaria juntamente com os
Padres Barnabitas no século XVI.
[5] SALA, Biografia..., p. 255.
[6] GOBIO, Vita... Besozzi, p. 165.
[7]
Representante de São Carlos Borromeu em Roma.
[8]
SALA, Biografia..., p. 278.
[9] Na
atual ilha de Córsega sob a administração da França.
[10] SALA, Biografia..., p.275.
[11] GIUSSANI-OLTROCCHI, De vita..., p. 445.
[12] SALA, Biografia..., p. 279.
[13] GERDIL, Vita... Sauli, pp.64-65.
[14] SALA, Biografia..., p. 278.
[15] GERDIL, Vita... Sauli, p. 71, nota.
[16]
Nome dado as catedrais na Itália.
[17]
Nome dado a Biblioteca histórica de Milão.
[18] GERDIL, Vita... Sauli, pp. 101-102.
[19] CASTANO, Luigi. Gregorio XIV, Torino,
1957, pp. 34-35.