Por ocasião do mês da Bíblia
e, mais especificamente hoje, o dia da Bíblia, a nós, zaccarianos, é de muita
utilidade saber como estimava S. Antonio Maria este livro sagrado, venerado
como Palavra de Deus por ser fonte escrita da revelação divina. Para tanto, é
necessária uma leitura dos Escritos que ele nos deixou, de onde podemos intuir
seu pensamento, fazendo um recorrido por algumas de suas diversas afirmações.
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Primeiramente, a partir de uma
leitura básica dos Escritos já é possível perceber a imensa importância que tem
a Bíblia para S. Antonio M. enquanto ao número de citações, paráfrases[i]
e alusões como fundamento de seus conselhos, declarações e exortações[ii].
Como por exemplo:
Já dizia o profeta
Miquéias: Ó homem, já foi explicado o que Javé exige de você: praticar o
direito, amar a misericórdia, caminhar humildemente com seu Deus (Mq.6,8). E
São Paulo: Quanto ao zelo, não sejam preguiçosos: sejam fervorosos de espírito,
servindo ao Senhor (Rm.12,11). E também São Pedro: Por isso mesmo, irmãos,
procurem com mais cuidado firmar o chamado que escolheu vocês. Agindo desse
modo, nunca tropeçarão (2Pd.1,10). Ele diz: sejam dedicados. Em muitos outros
trechos da Sagrada Escritura vamos ver que a prontidão é exigida e exaltada. (10211)[iii]
Nesse fragmento, S. Antonio M.
para demonstrar a exigência e exaltação da prontidão na Bíblia, busca
fundamentos desde o Antigo Testamento (Livro de Miquéias) ao Novo Testamento
(cartas de São Paulo e São Pedro). Mas também podemos ver em seus Escritos que
aqueles ensinamentos considerados próprios de S. Antonio Maria têm na Palavra
de Deus sua fonte, como por exemplo, o princípio do homem como meio através do
qual chegamos a Deus.
E, no julgamento
final, Ele dirá "Afastem-se de mim malditos... E estes responderão:
Senhor, quando foi que te vimos com fome... E Ele dirá: Eu garanto a vocês:
todas as vezes que vocês não fizeram isso a um desses pequeninos, foi a mim que
não o fizeram" (Mt.25,43-45). E o amor ao próximo é tão necessário, que
Paulo desejava ser separado de Cristo por causa de seus irmãos (Rm.9,3).
Caríssimo lendo toda a Escritura, você verá que Deus coloca o homem como meio
para chegarmos a Ele. (20423)
Igualmente, outro conceito
chave do “léxico espiritual” zaccariano é a imagem do “duplo livro” da Criação
e da Escritura.
Mas Deus, na sua
bondade, não considera a nossa malícia! Ele viu que o homem não dava conta de
ler direito o livro da natureza e que quase nunca chegava ao conhecimento
verdadeiro de Deus, porque valorizava as criaturas de forma errada e muito
diferente da maneira do próprio Deus, que as fez! Bem, vendo isso, o que Deus
fez? Fez outro livro: o livro da Escritura, no qual não só corrigiu o primeiro,
como colocou nele tudo de bom que havia nas criaturas; ensinou o caminho da
perfeição a partir da imperfeição e, ao aceitar as coisas necessárias, eliminou
as supérfluas. (20603)
Desse segmento, é importante
frisar alguns dados significantes: esses “dois livros”, tanto o da Criação quanto
o da Escritura, têm o próprio Deus por autor, O qual se preocupa de que o homem
esteja amparado e tenha o auxilio necessário para poder ir até Ele, ou seja,
que possa chegar ao verdadeiro conhecimento de Deus. Essa autoria de Deus nos
faz perceber que, para o santo Fundador, “a Bíblia é a ‘autoridade’ por
excelência”[iv]
e, além disso, nos faz reconhecer a Sagrada Escritura como fruto da graça
divina, como dom de Deus para que o homem possa caminhar bem e na direção
correta, pois por ela podemos aprender “o caminho da perfeição”.
Em virtude disso, podemos
asseverar que S. Antonio M. “não renuncia a uma utilização vivaz da Bíblia”,
conforme alega o Pe. Giovanni Rizzi (1989, pág. 107). Em um estudo barnabita
sobre o tema, esse mesmo autor afirma o seguinte em referência aos recursos
textuais que o santo Fundador faz aos escritos bíblicos:
As cifras podem de
qualquer modo quantificar a importância dos componentes paulinos na linguagem
zaccariana, caracterizada também de um considerável recurso à linguagem evangélica,
enquanto que as outras referências neotestamentárias são menos frequentes e
proporcionalmente inferiores a aquelas retiradas do Saltério. A consistência
notável do material do Pentateuco, quase completamente do Êxodo, se deve ao
gênero literário dos Sermões que explicam o Decálogo. Complexadamente escassas
são as referências aos Profetas e aos Livros Históricos. (RIZZI, 1989, pág.
105)
Agora que já temos uma visão
de como e quanto S. Antonio M. estimava a Sagrada Escritura, um segundo tópico
consiste em analisar as indicações do santo Fundador acerca da relação que seus
prezados filhos devem ter com a Palavra de Deus. As recomendações mais claras e
explícitas estão no capítulo VIII das Constituições sobre o estudo.
Estudem a Sagrada
Escritura e se deleitem com avidez na tentativa de entendê-la e compreendê-la,
de modo a sondar e revelar seu sentido mais oculto, principalmente aquele que é
útil para a formação pessoal. (30802)
Para S. Antonio M., a leitura
bíblica e sua compreensão deveriam ser atividades que provocassem encanto, mas,
ao mesmo tempo, que fossem realizadas com avidez, de forma a que não resultasse
em uma leitura superficial, mas uma leitura profunda; não uma leitura para
buscar o sentido histórico ou literal, mas aquela que permitisse colher o
sentido espiritual[v],
“útil para a formação pessoal”. Além disso:
Depois da Sagrada
Escritura, vocês poderão ler todo Doutor aprovado pela Igreja, os livros dos
Santos Padres, desde que seus escritos não sejam contrários à Sagrada Escritura
e aos Santos Doutores. (30803)
Conforme vimos anteriormente,
a Bíblia é “autoridade” por excelência para o Santo Fundador, e essa
indiscutível autoridade possibilita que ela seja tomada como paradigma na hora
de avaliar qualquer afirmação de fé, até mesmo se essas afirmações são dos
Padres da Igreja[vi],
ou seja, o modelo para comparar qualquer doutrina ou “escrito” é, sem dúvida, a
Sagrada Escritura, já que entre os livros sugeridos para o estudo pessoal ela
ocupa a primeira posição.
Já no capítulo XII das Constituições,
S. Antonio M. propõe as lições da Sagrada Escritura como “alimento do homem
interior” aos noviços:
Ensine aos Noviços
o conhecimento e a beleza do homem interior. E, porque o homem não vive só do
pão do corpo, mas também de toda palavra que procede da boca de Deus (Mt.5,4),
faça-os saber que o homem interior precisa igualmente do alimento espiritual e
do alimento material. Por isso, cada um preste bem atenção, porque, quem não
sentir fome deste alimento, ou melhor, quem não o procurar (nas lições da
Sagrada Escritura, nas exortações, nas Conferências) com ansiedade, para o seu
sustento e também não o esmiuçar para os outros, com toda certeza fará morrer
de fome e de miséria a si mesmo e aos outros. (31231)
E, por fim, no Sermão III, a
leitura da Palavra de Deus é recomendada como meio de conversão a Deus:
Você se converterá
a Deus, lendo a Escritura, recitando ou cantando salmos e, mais ainda,
oferecendo-lhe sacrifícios: do seu corpo, mortificando-o por amor a Deus; da sua
alma, unindo-a a Deus; o maior de todos: a Santíssima Eucaristia. (20325)
Assim, junto ao oferecimento
por meio de sacrifícios (mortificação do corpo, da alma e participação no
sacramento eucarístico), o Santo Fundador sugere a lectio divina como meio de conversão ao exortar à união com Deus,
elevação da mente, oração e contemplação. Com isso, “meditação, oração e
contemplação supõem a ‘lição’ ou leitura dita divina, porque tem por objeto a palavra revelada e porque é uma
leitura que nos põe em imediato contato com Deus” [vii].
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Ao fim dessa exposição, como
zaccarianos, devemos nos perguntar o quanto estamos estimando e sendo atentos à
Palavra de Deus, como a consideramos e que relevância ela tem em nossas vidas e
caminhada cristã. Com S. Antonio M. vimos que “a Escritura deve advertir,
esclarecer a vida do cristão e do religioso seja através do estudo, seja
através da leitura devocional”[viii].
Seguramente, viver a espiritualidade zaccariana é viver e tomar em consideração
a Escritura Sagrada, a qual para o Santo Fundador “é inspiração, vocabulário,
ponto de confronto, meio expressivo de uma autêntica vida espiritual” [ix].
Por:
BIBLIOGRAFIA
GENTILI, Antonio M.; SCALESE, Giovanni M. Prontuario per lo Spirito: Insegnamenti
ascetico-mistici di sant’Antonio Maria Zaccaria. Àncora Milano, Milano, 1994.
RIZZI, Giovanni. <> em: AAVV. S. Antonio M.
Zaccaria nel 450º della morte. Quaderni di Vita Barnabitica. Vol. 8, Roma,
1989.
ZACCARIA, Santo Antonio Maria. Escritos. 2ª Edição. Belo Horizonte,
2010.
[i] Interpretação de um texto
bíblico com as próprias palavras, mantendo o pensamento original.
[ii] “As milhares de alusões e
citações da Bíblia nas não muitas páginas dos escritos zaccarianos, supõem o
lugar central que ocupa a inspiração bíblica no pensamento de S. Antonio M.
Zaccaría” (RIZZI, Giovanni. <<Il S. Fondatore e la Bibbia>>..., pág. 118)
[iii] Essa nova forma de citar os textos
é um auxilio para uma busca mais efetiva e rápida nos Escritos. O primeiro
número significa: 1 – Cartas; 2 – Sermões; 3 – Constituições. O segundo número
representa qual Carta, Sermão ou capítulo da Constituição, e o terceiro número
indica o parágrafo. Assim: 10211 = Carta 2, parágrafo 11.
[iv] GENTILI, Antonio M.; SCALESE,
Giovanni M. Prontuario per lo Spirito...,
pág. 298.
[v]
Cf.: Ibidem.
[vi] Cf.: Ibidem.
[vii] Ibidem, pág. 188.
[viii]
Ibidem, pág. 300.