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Santo Antônio Maria Zaccaria e as Sagradas Escrituras

30 de setembro de 2014

Por ocasião do mês da Bíblia e, mais especificamente hoje, o dia da Bíblia, a nós, zaccarianos, é de muita utilidade saber como estimava S. Antonio Maria este livro sagrado, venerado como Palavra de Deus por ser fonte escrita da revelação divina. Para tanto, é necessária uma leitura dos Escritos que ele nos deixou, de onde podemos intuir seu pensamento, fazendo um recorrido por algumas de suas diversas afirmações.

*     *     *
Primeiramente, a partir de uma leitura básica dos Escritos já é possível perceber a imensa importância que tem a Bíblia para S. Antonio M. enquanto ao número de citações, paráfrases[i] e alusões como fundamento de seus conselhos, declarações e exortações[ii]. Como por exemplo:

Já dizia o profeta Miquéias: Ó homem, já foi explicado o que Javé exige de você: praticar o direito, amar a misericórdia, caminhar humildemente com seu Deus (Mq.6,8). E São Paulo: Quanto ao zelo, não sejam preguiçosos: sejam fervorosos de espírito, servindo ao Senhor (Rm.12,11). E também São Pedro: Por isso mesmo, irmãos, procurem com mais cuidado firmar o chamado que escolheu vocês. Agindo desse modo, nunca tropeçarão (2Pd.1,10). Ele diz: sejam dedicados. Em muitos outros trechos da Sagrada Escritura vamos ver que a prontidão é exigida e exaltada. (10211)[iii]

Nesse fragmento, S. Antonio M. para demonstrar a exigência e exaltação da prontidão na Bíblia, busca fundamentos desde o Antigo Testamento (Livro de Miquéias) ao Novo Testamento (cartas de São Paulo e São Pedro). Mas também podemos ver em seus Escritos que aqueles ensinamentos considerados próprios de S. Antonio Maria têm na Palavra de Deus sua fonte, como por exemplo, o princípio do homem como meio através do qual chegamos a Deus.

E, no julgamento final, Ele dirá "Afastem-se de mim malditos... E estes responderão: Senhor, quando foi que te vimos com fome... E Ele dirá: Eu garanto a vocês: todas as vezes que vocês não fizeram isso a um desses pequeninos, foi a mim que não o fizeram" (Mt.25,43-45). E o amor ao próximo é tão necessário, que Paulo desejava ser separado de Cristo por causa de seus irmãos (Rm.9,3). Caríssimo lendo toda a Escritura, você verá que Deus coloca o homem como meio para chegarmos a Ele. (20423)

Igualmente, outro conceito chave do “léxico espiritual” zaccariano é a imagem do “duplo livro” da Criação e da Escritura.

Mas Deus, na sua bondade, não considera a nossa malícia! Ele viu que o homem não dava conta de ler direito o livro da natureza e que quase nunca chegava ao conhecimento verdadeiro de Deus, porque valorizava as criaturas de forma errada e muito diferente da maneira do próprio Deus, que as fez! Bem, vendo isso, o que Deus fez? Fez outro livro: o livro da Escritura, no qual não só corrigiu o primeiro, como colocou nele tudo de bom que havia nas criaturas; ensinou o caminho da perfeição a partir da imperfeição e, ao aceitar as coisas necessárias, eliminou as supérfluas. (20603)

Desse segmento, é importante frisar alguns dados significantes: esses “dois livros”, tanto o da Criação quanto o da Escritura, têm o próprio Deus por autor, O qual se preocupa de que o homem esteja amparado e tenha o auxilio necessário para poder ir até Ele, ou seja, que possa chegar ao verdadeiro conhecimento de Deus. Essa autoria de Deus nos faz perceber que, para o santo Fundador, “a Bíblia é a ‘autoridade’ por excelência”[iv] e, além disso, nos faz reconhecer a Sagrada Escritura como fruto da graça divina, como dom de Deus para que o homem possa caminhar bem e na direção correta, pois por ela podemos aprender “o caminho da perfeição”.

Em virtude disso, podemos asseverar que S. Antonio M. “não renuncia a uma utilização vivaz da Bíblia”, conforme alega o Pe. Giovanni Rizzi (1989, pág. 107). Em um estudo barnabita sobre o tema, esse mesmo autor afirma o seguinte em referência aos recursos textuais que o santo Fundador faz aos escritos bíblicos:

As cifras podem de qualquer modo quantificar a importância dos componentes paulinos na linguagem zaccariana, caracterizada também de um considerável recurso à linguagem evangélica, enquanto que as outras referências neotestamentárias são menos frequentes e proporcionalmente inferiores a aquelas retiradas do Saltério. A consistência notável do material do Pentateuco, quase completamente do Êxodo, se deve ao gênero literário dos Sermões que explicam o Decálogo. Complexadamente escassas são as referências aos Profetas e aos Livros Históricos. (RIZZI, 1989, pág. 105)

Agora que já temos uma visão de como e quanto S. Antonio M. estimava a Sagrada Escritura, um segundo tópico consiste em analisar as indicações do santo Fundador acerca da relação que seus prezados filhos devem ter com a Palavra de Deus. As recomendações mais claras e explícitas estão no capítulo VIII das Constituições sobre o estudo.

Estudem a Sagrada Escritura e se deleitem com avidez na tentativa de entendê-la e compreendê-la, de modo a sondar e revelar seu sentido mais oculto, principalmente aquele que é útil para a formação pessoal.  (30802)

Para S. Antonio M., a leitura bíblica e sua compreensão deveriam ser atividades que provocassem encanto, mas, ao mesmo tempo, que fossem realizadas com avidez, de forma a que não resultasse em uma leitura superficial, mas uma leitura profunda; não uma leitura para buscar o sentido histórico ou literal, mas aquela que permitisse colher o sentido espiritual[v], “útil para a formação pessoal”. Além disso:

Depois da Sagrada Escritura, vocês poderão ler todo Doutor aprovado pela Igreja, os livros dos Santos Padres, desde que seus escritos não sejam contrários à Sagrada Escritura e aos Santos Doutores. (30803)

Conforme vimos anteriormente, a Bíblia é “autoridade” por excelência para o Santo Fundador, e essa indiscutível autoridade possibilita que ela seja tomada como paradigma na hora de avaliar qualquer afirmação de fé, até mesmo se essas afirmações são dos Padres da Igreja[vi], ou seja, o modelo para comparar qualquer doutrina ou “escrito” é, sem dúvida, a Sagrada Escritura, já que entre os livros sugeridos para o estudo pessoal ela ocupa a primeira posição.

Já no capítulo XII das Constituições, S. Antonio M. propõe as lições da Sagrada Escritura como “alimento do homem interior” aos noviços:

Ensine aos Noviços o conhecimento e a beleza do homem interior. E, porque o homem não vive só do pão do corpo, mas também de toda palavra que procede da boca de Deus (Mt.5,4), faça-os saber que o homem interior precisa igualmente do alimento espiritual e do alimento material. Por isso, cada um preste bem atenção, porque, quem não sentir fome deste alimento, ou melhor, quem não o procurar (nas lições da Sagrada Escritura, nas exortações, nas Conferências) com ansiedade, para o seu sustento e também não o esmiuçar para os outros, com toda certeza fará morrer de fome e de miséria a si mesmo e aos outros. (31231)

E, por fim, no Sermão III, a leitura da Palavra de Deus é recomendada como meio de conversão a Deus:

Você se converterá a Deus, lendo a Escritura, recitando ou cantando salmos e, mais ainda, oferecendo-lhe sacrifícios: do seu corpo, mortificando-o por amor a Deus; da sua alma, unindo-a a Deus; o maior de todos: a Santíssima Eucaristia. (20325)

Assim, junto ao oferecimento por meio de sacrifícios (mortificação do corpo, da alma e participação no sacramento eucarístico), o Santo Fundador sugere a lectio divina como meio de conversão ao exortar à união com Deus, elevação da mente, oração e contemplação. Com isso, “meditação, oração e contemplação supõem a ‘lição’ ou leitura dita divina, porque tem por objeto a palavra revelada e porque é uma leitura que nos põe em imediato contato com Deus” [vii].

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Ao fim dessa exposição, como zaccarianos, devemos nos perguntar o quanto estamos estimando e sendo atentos à Palavra de Deus, como a consideramos e que relevância ela tem em nossas vidas e caminhada cristã. Com S. Antonio M. vimos que “a Escritura deve advertir, esclarecer a vida do cristão e do religioso seja através do estudo, seja através da leitura devocional”[viii]. Seguramente, viver a espiritualidade zaccariana é viver e tomar em consideração a Escritura Sagrada, a qual para o Santo Fundador “é inspiração, vocabulário, ponto de confronto, meio expressivo de uma autêntica vida espiritual” [ix]. 
Por:






BIBLIOGRAFIA
GENTILI, Antonio M.; SCALESE, Giovanni M. Prontuario per lo Spirito: Insegnamenti ascetico-mistici di sant’Antonio Maria Zaccaria. Àncora Milano, Milano, 1994.
RIZZI, Giovanni. <> em: AAVV. S. Antonio M. Zaccaria nel 450º della morte. Quaderni di Vita Barnabitica. Vol. 8, Roma, 1989.
ZACCARIA, Santo Antonio Maria. Escritos. 2ª Edição. Belo Horizonte, 2010.



[i] Interpretação de um texto bíblico com as próprias palavras, mantendo o pensamento original.
[ii] “As milhares de alusões e citações da Bíblia nas não muitas páginas dos escritos zaccarianos, supõem o lugar central que ocupa a inspiração bíblica no pensamento de S. Antonio M. Zaccaría” (RIZZI, Giovanni. <<Il S. Fondatore e la Bibbia>>..., pág. 118)
[iii] Essa nova forma de citar os textos é um auxilio para uma busca mais efetiva e rápida nos Escritos. O primeiro número significa: 1 – Cartas; 2 – Sermões; 3 – Constituições. O segundo número representa qual Carta, Sermão ou capítulo da Constituição, e o terceiro número indica o parágrafo. Assim: 10211 = Carta 2, parágrafo 11.
[iv] GENTILI, Antonio M.; SCALESE, Giovanni M. Prontuario per lo Spirito..., pág. 298.
[v] Cf.: Ibidem.
[vi] Cf.: Ibidem.
[vii] Ibidem, pág. 188.
[viii] Ibidem, pág. 300.
[ix] RIZZI, Giovanni. <<Il S. Fondatore e la Bibbia>>..., pág. 119.
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