Por: Dom Anuar Battisti, Arcebispo
de Maringá (PR).
Diante da necessidade de
ser o melhor e o maior, o mais bonito, o mais charmoso, o mais admirado, o mais
sexy, o mais elegante, enfim, o mais em tudo, os tempos atuais nos levam a
contemplar exageros na malhação do corpo, na busca de regimes e até ariscando a
própria vida.
Já assistimos vários
fatos de jovens que morrem, não por falta de alimentos, mas sim por pura
vaidade, em nome da elegância e do modelo típico convencionado pelos atores da
moda. Modelos criados para servir ao puro império do consumo, vidas humanas
colocadas fora da liberdade e da dignidade de seres racionais, visando
unicamente bens materiais.
A sociedade moderna
perdeu a dimensão sobrenatural da vida humana, do direito de viver e conquistar
a felicidade com dignidade, sem ser escravo das coisas. Quanta coisa,
coisificando até o ser humano! A vida humana já não tem valor. O que dizer
então da natureza? O “tanto faz como tanto fez” se tornou norma; o fazer por
fazer, o gozar a vida e aproveitar tudo hoje; o pensamento de que a vida acaba
tudo aqui nesta terra, se torna lei suprema para muitos. A perda da esperança
de um mundo melhor leva ao puro relativismo da vida presente e da vida futura.
Hoje recordamos uma
menina de quinze anos, nascida e criada em um povoado no interior da Palestina,
lugarejo que não constava no roteiro das viagens da época. Foi naquela vila,
sem importância, que Deus escolheu a Mariazinha da casa de Joaquim e Ana para
ser a Mãe Daquele que mudou a história e o rumo da humanidade. O modelo de Deus
não vem do centro de poder, dos lugares importantes e mais visitados. Uma jovem
de aproximadamente quinze anos, não tendo certeza de nada, a não ser a
obediência, é chamada, escolhida para ser mãe, Daquele que esperamos celebrar
em breve o Seu aniversário.
Somos convidados a
equacionar o tipo de resposta que damos aos desafios de Deus. Ao propor-nos o
exemplo de Maria de Nazaré, a festa litúrgica daquela que foi concebida sem
mácula, hoje convida-nos a acolher, com um coração aberto e disponível, os
planos de Deus para nós e para o mundo. O texto do evangelista Lucas apresenta
a resposta de Maria ao plano de Deus. Ao contrário de Adão e Eva, Maria
rejeitou o orgulho, o egoísmo e a autossuficiência e preferiu conformar a sua
vida, de forma total e radical, com os planos de Deus. Do seu “sim” total,
resultou a salvação e vida plena para ela e para o mundo. “Eis aqui a serva do
Senhor faça-se em mim a Tua vontade” (Lc 1, 38). Na Bíblia ser “servo do
Senhor” é um título de glória, reservado àqueles que Deus escolheu, que Ele
reservou para o seu serviço e que El e enviou ao mundo com uma missão. Desta
forma, Maria reconhece que Deus a escolheu, aceita com disponibilidade essa
escolha e manifesta a sua disposição de cumprir, com fidelidade, o projeto de
Deus.
Maria responde com um “sim”
total e incondicional. Ela tinha o seu programa de vida, seus projetos
pessoais, mas, todos passaram naturalmente e sem dramas a um plano secundário.
Na atitude de Maria não
há qualquer sinal de egoísmo, de comodismo, de orgulho, mas há uma entrega total
nas mãos de Deus. O testemunho de Maria é um testemunho, um modelo que nos
questiona fortemente. Maria de Nazaré foi uma mulher para quem Deus ocupava o
primeiro lugar, uma pessoa de oração e de fé, que fez a experiência do encontro
pessoal com Deus. O Mundo está morrendo, porque esqueceu dos verdadeiros
exemplos, modelos, como o da Mariazinha de Nazaré.
Fonte: cnbb.org.br