Por: Dom Demétrio Valentini, Bispo de Jales (SP).
Continua repercutindo o
recente documento Evangelii Gaudium, do Papa Francisco. É tido como o primeiro
documento oficial escrito por ele, em forma de “Exortação Apostólica pós
sinodal”.
A forma do documento
remete ao Sínodo de 2012, realizado para comemorar os 50 anos do Concílio.
Portanto, em princípio, o documento de agora recolhe as sugestões apresentadas
no Sínodo. De tal modo que o documento mantém o propósito de continuidade entre
um pontificado e outro.
Mas acontece que o Papa
Francisco imprimiu neste documento, o seu modo característico de abordar os
assuntos, de maneira clara, direta, ao mesmo tempo simples e profunda.
Além disto, ele mesmo
sugere estar iniciando uma “uma nova etapa evangelizadora marcada por esta
alegria e indicar caminhos para o percurso da Igreja nos próximos anos”.
Portanto, o Papa está
apresentando agora, de maneira orgânica, uma espécie de “plano de governo”, ao
menos para os próximos anos.
É praxe na Igreja “carimbar”
os documentos com palavras iniciais bem escolhidas, portadoras de uma mensagem,
que precisa ser interpretada com a luz de uma semântica própria, pela qual é
possível decifrar o significado de um determinado documento.
O título desta “Exortação
Apostólica” – “Evangelii Gaudium” - tem evidente conexão com o famoso documento
de Paulo VI, a “Evangelii Nuntiandi”.
A semelhança das palavras
sugere semelhança entre os dois documentos, seja na forma como no conteúdo. E
de fato, já dá para avançar uma perspectiva. O documento de agora será acolhido
da mesma maneira como foi acolhido o “Evangelii Nuntiandi”, que permaneceu por
muitos anos, como fonte de inspiração para a ação evangelizadora da Igreja.
Mas a semelhança de
palavras, arma para a “Evangelii Gaudium” um leque maior de referências, que
ajudam a dimensionar a importância deste documento. Trata-se da palavra
“gaudium” que se tornou uma espécie de “senha” para acessar o Concílio. De
fato, dá para fazer algumas constatações interessantes, em torno do uso desta
palavra no Concílio. Para chegarmos à conclusão de que o atual documento do
Papa vem na continuidade das propostas conciliares, que recebem agora novo
impulso com a Evangelii Gaudium.
Vamos conferir. O
Concílio Vaticano II teve o seu início oficial com o famoso discurso de
abertura, feito por João XXIII. Este discurso começou com as bonitas palavras
de exultação: “Gaudet Mater Ecclesia”, “alegra-se a mãe Igreja”.
E o último documento do
Concílio, aprovado pelos padres conciliares a sete de dezembro de 1965, leva
como título: “Gaudium et Spes”. Desta maneira, dá para dizer que o Concílio
começou e terminou à luz da palavra “gaudium”.
O Concílio Vaticano II
foi realizado sob o signo da alegria. Tanto mais se torna significativo o fato
do Papa Francisco ter usado esta palavra no título do seu “plano de governo”
Daí que a “Evangelii
Gaudium” tem tudo a ver com a “Gaudet Mater Eccleccia” e com a “Gaudium et
Spes”. O plano de governo do Papa Francisco, tem tudo a ver com a
implementação do Concílio, que ele tanto nos incentiva a levar em frente,
seguindo o seu próprio exemplo.
Fonte: cnbb.org.br