A
Igreja Católica, representada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
(CNBB), lançou na Quaresma deste ano a Campanha da Fraternidade 2017 com o tema
“Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida”. Neste artigo são abordadas
algumas considerações acerca do bioma da Caatinga.
Segundo
Ferreira, bioma é um termo relacionado à ecologia e significa “comunidade
importante que se estende sobre uma grande área, a qual se caracteriza por uma
vegetação dominante” (FERREIRA, 2004, p. 178). Essa comunidade representa o
conjunto formado pelas inúmeras espécies da fauna e da flora que interagem em
determinada região.
A
Caatinga abrange os estados do Ceará, Piauí, Rio Grande do Norte, Paraíba,
Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia. Mesmo sendo genuinamente brasileira, a
Caatinga é o bioma do qual se tem menos informação e mais preconceito por causa
dos estigmas sociais e climáticos vivenciados pelos nordestinos. Originário do
tupi, Caatinga significa “mata branca”. Essa característica se deve ao fato de
que durante os longos períodos de estiagem, a vegetação fica visivelmente
esbranquiçada, cinza, dando a aparência de morta. Biologicamente, esse fenômeno
é a ação dos processos metabólicos que ocorrem no organismo dessas plantas.
Quando não há chuva e a seca impera, a vegetação perde as folhas, economizando
ao máximo a água e os nutrientes. Há, inclusive, um predomínio de plantas
espinhosas, visto que os espinhos perdem menos água que as folhas, como é o
exemplo do umbuzeiro, do juazeiro e do cardeiro, mais conhecido como cacto que,
por sua vez, possui mais espinhos que folhas. Isso, aos olhos do senso comum,
representa pobreza e miséria. Mas, ao contrário, é o sertão que não deixa de
viver, ainda que sacrificando-se. Quando surge um período chuvoso, mais
favorável, a beleza da Caatinga se refaz. Basta haver uma chuvinha que as
folhas começam a brotar nos galhos que antes pareciam mortos. Quando a
vegetação se revigora, os sertões nordestinos transmitem a esperança de que o
período das secas dá uma trégua.
É
verdade que desse bioma pouco se conhece perto da biodiversidade que ele
contém. Pensa-se que nele tudo é inferior e decadente, mas, atentos a isso,
aqueles que refletem sobre o tema da Campanha deste ano devem destacar que,
antes de tudo, defender e preservar os dons da Criação é, também, ser sentinela
do reconhecimento de que todos são dignos, enquanto seres humanos, de terem
acesso a melhores condições de vida e de convivência com a natureza.
É
válido citar também os “conselhos ecológicos” a respeito da convivência com a
Caatinga, dados no início do século XX e atribuídos a pessoa de Padre Cícero
Romão Batista, líder religioso e político do Nordeste que orienta o seguinte:
“Não derrube o mato,
nem mesmo um só pé de pau; não toque fogo no roçado nem na Caatinga; não cace
mais e deixe os bichos viverem; não crie o boi nem o bode soltos: faça cercados
e deixe o pasto descansar para refazer; não plante em serra acima nem faça
rolado em ladeira muito em pé; deixe o mato protegendo a terra para que a água
não a arraste e não se perca a sua riqueza; faça uma cisterna no oitão de sua
casa para guardar a água da chuva; represe os riachos de cem em cem metros,
ainda que seja com pedra solta; plante cada dia pelo menos um pé de algaroba,
de caju, de sabiá ou outra árvore qualquer, até que o sertão seja uma mata só;
aprenda a tirar proveito das plantas da Caatinga, como a maniçoba, a favela e a
jurema; elas podem ajudar a conviver com a seca; se o sertanejo obedecer a estes
preceitos, a seca vai aos poucos se acabando, o gado melhorando e o povo terá
sempre o que comer; mas, se não obedecer, dentro de pouco tempo o sertão vai
virar um deserto só.”
Recorde-se
também a recente Carta Encíclica do Papa Francisco a respeito do cuidado com a
Casa Comum, documento no qual ele exorta acerca da importância da humanidade
precisar respeitar os limites do Planeta em vista de um futuro melhor para as
próximas gerações. Assim ele escreve:
“Muitas coisas devem
reajustar o próprio rumo, mas antes de tudo é a humanidade que precisa mudar.
Falta a consciência de uma origem comum, de uma recíproca pertença e de um
futuro partilhado por todos. Essa consciência basilar permitiria o
desenvolvimento de novas convicções, atitudes e estilos de vida. Surge, assim,
um grande desafio cultural, espiritual e educativo que implicará longos
processos de regeneração” (PAPA FRANCISCO, 2015, p. 163).
Mais
do que nunca, é de máxima importância e necessidade que o ser humano repense as
próprias ações em função de uma revisão dos seus atos e das consequências
destes, caso contrário, a natureza não conseguirá suportartantos golpes e
investiduras e uma hora revidará à altura a forma como tem sido tratada pela
humanidade.
POR: Edvando Barros, estudante de Filosofia da Província Norte do Brasil