"Olhai para mim Senhor, e tende piedade, pois vivo sozinho e
infeliz. Vede minha miséria e minha dor e perdoai todos os meus
pecados"(Sl 24,16.18).
No encantamento do tempo comum, das coisas cotidianas, depois de termos
celebrado as festas da Santíssima Trindade e de "Corpus Christi" os
domingos se revestem da beleza do dia a dia e Nosso Senhor Jesus nos é
apresentado pela Mãe Igreja como o único mediador da salvação.
Meus queridos irmãos,
Na Primeira Leitura (cf 1Rs 8,41-43) o rei Salomão reza para que Deus
atenda os estrangeiros. Na grande oração da Dedicação do Templo de Jerusalém,
Salomão não reza apenas pela casa de Davi e o povo de Israel, mas, também,
pelos estrangeiros que aí virão adorar ao Deus de Israel e do Universo. E o
templo será a casa de oração para todas as nações. Deus quer ficar acessível às
necessidades de todos os homens. A única condição indicada na leitura do
primeiro livro dos Reis para se poder praticar o culto é crer no nome de Deus
(cf. Ex 12,48), isto é, em Deus por uma fé que se baseia em sua ação salvífica
na história.
A fé é universal, conforme nos ensina a bela oração de Salomão na
ocasião da Dedicação do Templo. O Rei Salomão pede a Deus também pelos que
acorrem de longe para rezarem no Templo de Jerusalém.
Caríssimos fiéis,
Caríssimos fiéis,
O Evangelho de São Lucas (Lc 7,1-10) apresenta hoje a fé de um pagão,
um oficial romano, que morava em Cafarnaum. O centurião de Cafarnaum é um
pagão, porém, envergonha os representantes da sinagoga por sua fé em Jesus,
"o Senhor"(cf. Lc 7,6), e na força salvífica de sua palavra. São
Lucas descreve o centurião como um homem que teme a Deus, um pagão que serve de
exemplo para os judeus. O Evangelista Lucas revela-se aqui como o evangelista
"ecumênico", descobrindo os valores "pré-cristãos" em todo
o mundo. Claro aqui está a emocionante fé do Centurião. Vejamos, novamente, que
o centurião é cidadão romano. O centurião é pagão, mas estima muito o judaísmo.
Fica evidente que o Centurião se acha indigno de fazer um pedido direto
a Jesus para que cure o seu funcionário. O Centurião manda os anciãos de
Cafarnaum pedir a cura de seu empregado a Jesus, e estes anciãos não tinham
como negar o pedido do Centurião, porque ele próprio havia ajudado na
edificação de uma Sinagoga na cidade de Cafarnaum. Com a insistência dos
anciãos para que Jesus vá ao encontro do Centurião ele caminha com eles na
direção da casa do cidadão romano. Ainda no caminho o centurião romano lhes
corre ao encontro e proclama: "Não, Senhor, não entre em minha casa. Eu
não sou digno. Mas fale uma só palavra, que meu servo fica bom. Pois eu sei o
que uma palavra é capaz de fazer quando a gente tem poder de mandar, sou
militar!" E, Jesus, cura o servo, à distância.
Aqui o que está em evidência é a grande fé do homem romano, estrangeiro
e pagão, que não colocou pré condições, mas acreditou: "Eu sei o que é
mandar - mande, Senhor!". Uma fé profunda, que passou primeiro pela
mediação dos anciãos da cidade, e que, depois, ele mesmo corre ao encontro do
Senhor. Isso levou o próprio Senhor Jesus a dizer: "Eu vos declaro que nem
mesmo em Israel encontrei tamanha fé"(cf. Lc. 7, 9).
Esta fé, que procede do sentimento da própria inteligência e
indignidade diante dos benefícios de Deus, foi motivo da salvação na casa do
centurião. O centurião sabe que para obter os benefícios de Deus, ele precisa
passar através dos judeus e parece que assim também pensam os judeus,
insistindo em que Jesus faça uma exceção: "Ele é digno". Mas com a
vinda de Jesus as coisas mudam: a salvação é para todos os que têm fé e só para
esses (cf. Rm 3,22).
Caros irmãos,
A Segunda Leitura desta liturgia (cf. Gl 1,1-2,6-10) nos apresenta o
Evangelho de Paulo. São Paulo mesmo operou a primeira evangelização da Galácia,
país subdesenvolvido, muito exposto a qualquer novidade. Agora vieram outros missionários,
confundindo as jovens nascentes comunidades, impondo costumes judaicos - como a
circuncisão - também aos cristãos de origem pagã. Estes missionários
consideravam o cristianismo apenas como uma variante do Judaísmo. São Paulo,
então, escreveu a carta de hoje com intensa preocupação. Não se trata de uma
pessoa, mas da pureza de seu Evangelho. A garantia desta pureza é que Deus, que
ressuscitou o Cristo dos mortos, também chamou a São Paulo.
A segunda leitura nos oferece a saber qual é o critério para
reconhecer, independentemente dos pregadores, qual é o verdadeiro Evangelho? Os
cristãos devem saber que existe uma norma objetiva da pregação e da fé(cf. 1Cor
15,3-4) contra a qual ninguém pode ir, nem Paulo nem um colaborador dele, nem
um anjo. A norma é esta: Cristo é o único mediador da salvação. Se alguma
doutrina procura modificar esta verdade, não pode ser evangelho.
A lei fica sempre exterior ao homem e não pode, de modo algum, mudar o
homem; ainda que possa observar todas as leis, o homem não mudará. Se o homem
não fosse pecador interiormente, não teria necessidade de ser mudado. Mas o
homem, todo homem, é pecador, e só Deus pode transformá-lo; a lei não pode. É
Cristo que opera tudo isso no homem. São Paulo convida os gálatas a escolher
entre a lei e Cristo.
Queridos irmãos,
É no amor que o homem se realiza, na comunhão com Deus e com os outros.
E isto só é possível em Cristo. Ele á a aliança entre Deus e a pessoa humana, a
comunhão realizada de modo perfeito, porque verdadeiro homem e verdadeiro Deus.
Por isso, é só unindo-se vitalmente em Cristo que o homem se salva como homem.
Prezados fiéis,
Devemos, neste dia, relembrar o que nos ensina o Concílio Vaticano II:
"Finalmente, aqueles que ainda não receberam o Evangelho, estão de uma
forma ou outra orientados para o Povo de Deus (32). Em primeiro lugar, aquele
povo que recebeu a aliança e as promessas, e do qual nasceu Cristo segundo a
carne (cfr. Rom. 9, 4-5), povo que segundo a eleição é muito amado, por causa
dos Patriarcas, já que os dons e o chamamento de Deus são irrevogáveis (cfr.
Rom. 11, 28-29).
Mas o desígnio da salvação estende-se também àqueles que reconhecem o
Criador, entre os quais vêm em primeiro lugar os muçulmanos, que professam
seguir a fé de Abraão, e conosco adoram o Deus único e misericordioso, que
há-de julgar os homens no último dia. E o mesmo Senhor nem sequer está longe
daqueles que buscam, na sombra e em imagens, o Deus que ainda desconhecem; já
que é Ele quem a todos dá vida, respiração e tudo o mais (cfr. Act. 17, 25-28)
e, como Salvador, quer que todos os homens se salvem (cfr. 1 Tim. 2,4).
Com efeito, aqueles que, ignorando sem culpa o Evangelho de Cristo, e a
Sua Igreja, procuram, contudo, a Deus com coração sincero, e se esforçam, sob o
influxo da graça, por cumprir a Sua vontade, manifestada pelo ditame da
consciência, também eles podem alcançar a salvação eterna (33).
Nem a divina Providência nega os auxílios necessários à salvação
àqueles que, sem culpa, não chegaram ainda ao conhecimento explícito de Deus e
se esforçam, não sem o auxílio da graça, por levar uma vida reta. Tudo o que de
bom e verdadeiro neles há, é considerado pela Igreja como preparação para
receberem o Evangelho (34), dado por Aquele que ilumina todos os homens, para
que possuam finalmente a vida. Mas, muitas vezes, os homens, enganados pelo
demônio, desorientam-se em seus pensamentos e trocam a verdade de Deus pela
mentira, servindo a criatura de preferência ao Criador (cfr. Rom. 1,21 e 25),
ou então, vivendo e morrendo sem Deus neste mundo, se expõem à desesperação
final. Por isso, para promover a glória de Deus e a salvação de todos estes, a
Igreja, lembrada do mandato do Senhor: «pregai o Evangelho a toda a criatura»
(Mc. 16,16), procura zelosamente impulsionar as missões"(Cf. LG 16).
Os bispos, na Conferência de Aparecida, disseram: "Neste momento,
com incertezas no coração, perguntamo-nos com Tomé: “Como vamos saber o
caminho?” (Jo 14,5). Jesus nos responde com uma proposta provocadora: “Eu sou o
Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6). Ele é o verdadeiro caminho para o Pai.,
quem tanto amou ao mundo que deu a seu Filho único, para que todo aquele que
nele creia tenha a vida eterna (cf. Jo 3,16). Esta é a vida eterna: “que te
conheçam a ti o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo teu enviado” (Jo 17,3).
A fé em Jesus como o Filho do Pai é a porta de entrada para a Vida. Como
discípulos de Jesus, confessamos nossa fé com as palavras de Pedro: “Tuas
palavras dão vida eterna” (Jo 6,68); “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”
(Mt 16,16)" (DAp 101).
Por: Pe. Wagner Portugal