A Trindade preside o projeto de
salvação. O Pai aparece como princípio sem princípio. Dele tudo procede. No
tempo, envia o Filho, que assumiu a humanidade com o belo nome de Jesus. O
Espírito participou no princípio na própria origem do Filho, assistiu-o na
história e deixou-se ser enviado por ele e pelo Pai para ficar presente entre
nós, como aquele que nos ensinará e nos recordará tudo o que Jesus nos disse.
Aí está o projeto de salvação na primeira fonte.
Depois
entramos nós como os destinatários queridos. Na acolhida do plano de Deus, os
humanos divergem imensamente. A primeira e mais perfeita criatura chama-se
Maria. Deus a escolheu como mãe de Jesus. Precede a todos na santidade.
Diferentemente da visão pagã, ela não faz parte por natureza da vida íntima da
Trindade. Lá o Filho procede do Pai, no Espírito Santo.
Entra, porém, na vida divina por
participação, assumindo a maternidade temporal do Filho. Em força da única,
singular e sublime missão, ela situa-se no ponto mais elevado da santidade. A
primeira e maior santa. Cumpre papel fundamental nessa condição. Na terra,
irradiou em torno de si exemplo de santidade para todos nós pela modéstia de
vida e de entrega. Embora cumprindo a mais sublime de todas as missões, nunca
se arrogou o status externo de tal glória. Viveu pobre. Chamou-se serva do
Senhor. Antes de tudo, foi e continua sendo exemplo para que os olhos dos
humanos vejam nela modelo a seguir.
Existem
os santos proclamados pela Igreja Católica e os desconhecidos que ocupam os
bancos das igrejas, visitam os doentes, desvelam-se nas famílias.
Os outros homens e mulheres
santos participam, em grau menor, de tal exemplaridade. Aqui vale distinguir
dois tipos de santos. Existem os oficialmente proclamados pela Igreja católica.
As biografias estão aí para ensinar-nos como trilhar caminhos semelhantes. Há
outros e outras, porém, que nunca subirão aos altares. No entanto, vivem
exemplarmente. Estão em cada canto da cidade, bem próximos de nós. Ocupam os
bancos das igrejas, visitam os doentes nos hospitais, cuidam dos anciãos nos
asilos, desvelam-se nas famílias cuidando dos membros, ganham dignamente os
salários para sustentar os seus e ajudar outros. Enfim, vivem em todos os
rincões de maneira simples, humilde e cheia de amor.
Os
santos entram no projeto de Deus de outra maneira. Na terra, rezam fervorosos
pela conversão dos pecadores, pela cura dos enfermos, pelas atividades
missionárias da Igreja. Verdadeiras colunas de fé e esperança. Confiamos no
poder de suas orações. Eles, que já estão no céu, quer reconhecidos pela
Igreja, quer não, figuram como intercessores junto a Deus por nós. Daí, surgem
as diversas devoções que povoam a fé pura do povo. Cria-se especialização de
modo que, conforme a necessidade, se recorre a um santo ou a outro. A piedade
popular cultua altamente os santos segundo o critério da força da intercessão
para determinadas circunstâncias. Teologicamente, professamos no Credo o
mistério da comunhão dos santos que envolve a todos que participam da santidade
do projeto de Deus.
Por: Pe. João Batista Libanio, SJ (Professor da Faculdade Jesuíta de Teologia e Filosofia-FAJE).