Saudações no Cristo Crucificado!
Mais uma vez São Lucas narra um episódio situado no “caminho de Jerusalém” (esse “caminho espiritual”, ao longo do qual os discípulos vão aprendendo e interiorizando os valores e a realidade do “Reino”). No “caminho” de Jesus e dos discípulos aparecem dez leprosos. O leproso era no tempo de Jesus o protótipo do marginalizado.
Além de causar naturalmente repugnância pela sua aparência e de infundir medo de contágio, o leproso era um impuro ritual (cf. Lv 13-14) a quem era atribuído pecados graves (a lepra era o castigo de Deus para esses pecados); por isso, o leproso não podia sequer entrar na cidade de Jerusalém, a fim de não despurificar a cidade santa. Devia afastar-se de qualquer convívio humano para que não contaminasse os outros com a sua impureza física e religiosa. Em caso de cura, devia apresentar-se diante de um sacerdote, a fim de que ele comprovasse a cura e lhe permitisse a reintegração à vida normal (cf. Lev 14). Podia, então, voltar a participar nas celebrações do culto.
Um dos leprosos que vai desempenhar o papel principal neste episódio é um samaritano. Os samaritanos eram desprezados pelos judeus de Jerusalém por causa do seu sincretismo (mistura) religioso.
O episódio dos dez leprosos de hoje insere-se perfeitamente na ótica de apresentar Jesus como o Deus que se fez pessoa para trazer, com gestos concretos, a salvação a todos os homens, particularmente aos oprimidos e marginalizados. É esse o ponto de partida da história que São Lucas nos narra: ele mostra que Deus tem uma proposta de vida nova e de libertação para oferecer a todos os homens. O número dez tem, certamente, um significado simbólico: significa “totalidade”. A presença de um samaritano no grupo indica, contudo, que essa salvação oferecida por Deus, em Jesus, não se destina apenas à comunidade do “Povo eleito”, mas se destina a todos os homens, sem exceção, mesmo àqueles que o judaísmo oficial considerava definitivamente afastados da salvação.
São Lucas está interessado também em mostrar que quem recebe a salvação deve reconhecer o dom de Deus e deve estar agradecido. E avisa que, com frequência, são os marginais, os desprezados, aqueles à margem da salvação, que estão mais atentos aos dons de Deus.
É preciso ter uma resposta de gratidão e de adesão à proposta de salvação que Deus faz. Curiosamente, os dez “leprosos” não são curados imediatamente por Jesus, mas a “lepra” desaparece “no caminho”, quando iam mostrar-se aos sacerdotes. Isto sugere que a ação libertadora de Jesus não é uma ação mágica, caída repentinamente do céu, mas um processo progressivo (o “caminho” define, neste contexto, a caminhada cristã), no qual o crente vai descobrindo e interiorizando os valores de Jesus, até à adesão plena às suas propostas e à efetiva transformação do coração. Assim, a nossa “cura” não é um momento mágico que acontece quando somos batizados, ou fazemos a primeira comunhão, ou somos crismamos, mas é uma caminhada progressiva, durante a qual descobrimos Cristo e nascemos para a vida nova.
Que Deus nos abençõe!
Por: André Carlos M. Carvalho (Aspirante Barnabita)